Sucedem-se as baixas e altas estações turísticas, mas o quadro permanece inalterado: a situação deplorável de alguns dos principais pontos e corredores de visitação de Fortaleza, nos quais os transeuntes se vêem obrigados a enfrentar obstáculos, desde os buracos de rua e calçada, aos amontoados de lixo.
Parece coincidência, mas exatamente os pontos que se apresentavam, há alguns anos, como principais apelos turísticos da cidade, são os que mostram maior aspecto de deterioração. A Praia de Iracema, outrora importante reduto da boemia intelectual e, em período posterior, sofisticado pólo de lazer, está longe de se libertar do estigma da prostituição e do tráfico de drogas.
Infelizmente, o anunciado plano de reurbanização e requalificação do bairro ignorou os lugares ostensivos da degradação ambiente, deixando à margem, de modo inexplicável, o que mais necessitaria de mudança.
Também em estado inaceitável se encontram as praças da Lagoinha e José de Alencar, cartões-postais no passado, transformadas em deprimente retrato da paisagem urbana. O entorno do Theatro José de Alencar, considerado um dos mais belos e arquitetonicamente importantes do País, já não tem apenas a vizinhança de botecos escusos e freqüentados por marginais, mas também se tornou abrigo de moradores de rua, com tudo que isso possa representar quanto à ausência de higiene e desconforto para os transeuntes.
No meio das duas praças, persiste o Beco da Poeira, o qual só por milagre ainda não foi cenário de um incêndio de grandes proporções, pela falta de segurança em relação aos seus usuários e freqüentadores. Ali deveria ser o epicentro do tão protelado Parque da Cidade, projeto que viria a contribuir para a revitalização do Centro.
Além do permanente perigo dos furtos e assaltos, os idosos e portadores de carências físicas estão sujeitos a acidentes, pois os buracos das ruas e calçadas viram progressivamente crateras, nas quais as águas das chuvas têm encontrado espaço propício para servir de criadouro aos temíveis mosquitos transmissores da dengue.
A situação estende-se por toda a faixa litorânea, da Avenida Beira-Mar à Praia do Futuro, ambas representando um desafio ao ir-e-vir dos visitantes e da população local. São problemas a desafiar o tempo e a boa vontade dos responsáveis por eles, mas é indiscutível que a imagem de Fortaleza se desgasta a cada dia no trade turístico nacional e urge que a consciência disso se faça forte e presente.
Carente de espaço verde, um fator apontado como entrave à arborização necessária para formação de ar saudável em Fortaleza é a falta de critério técnico nas podas das árvores existentes nos locais públicos.Não se leva em conta a característica específica de cada espécie vegetal, apressando a morte da árvore. A generosa sombra arbórea enriqueceria, em muitos sentidos, o ambiente urbano, tanto pela estética que valoriza os espaços públicos como pela amenização do clima de temperatura elevada. Além disso, enfatizaria os aspectos de civilização e educação de seus habitantes, enobrecendo a cidade.
Editorial do Jornal DIARIO DO NORDESTE, da data de hoje, 13/07/ 2008, que deveria ser leitura obrigatoria de todos os candidatos à Prefeito(a) de Fortaleza. Reproduzido para efeito de divulgação.
domingo, 13 de julho de 2008
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Um comentário:
Entendo que existe uma auséncia da prefeitura, mas entendo também que o problema é mais grave pela pobreza da população.
Fortaleza vive um momento semelhante como em toda a sua história, só que mais grave. Antes era regido pelas secas, hoje a pobreza é mais perene e o povo não se sente mais abalado pela fé que mantinha a moral e honra de quem fosse pobre. Com a TV, a falta de vergonha se popularizou e quem é pobre hoje, não tem mais vegonha de fazer qualquer coisa de ruim na cidade.
Na história, vários momentos de depredação e descaso ocorrerem. Acredito que enquanto não houver uma reforma territórial rural e urbana, o problema presistirá. Não é só em Fortaleza. É geral de todo o Brasil. Em alguns lugares, de forma mais grave ou menos velada.
Pra mim, a solução tem que ser conjunta, de todos os níveis de governo e com toda a sociedade. Sem isso, serão apeonas casos isolados, com o benefício apenas de alguns!
A história da ocupação da cidade depois dos anos de 1930 mostra que o crescimento urbano aliado a especulação imobiliária e a falta de uma reforma urbana tornaram o espaço estrangulado, concentrador, excludente e feio. Mesmo os bairros nobres sofrem com isso. Mesmo a beira mar foi medíocre e explorada pelos ricos, eles mesmo vítimas de sua ganânica por um espaço privilegiado, mas tão estrangulado quanto uma área de pouca infraestrutura urbana.
Os donos da terra não quarem abrir mão, 1cm para a paisagem urbana ou a circulação. o que importa é o preço do m². A profissão do corretor de imóveis, que devia ter uma função para alem da regulação profissional, não ajuda em nada, quando as vezes até prejudica a ordem do espaço urbano, criando mais concorrência e gerando especulação, desfavorecendo o planejamento.
Vai ser bem difícil conseguir solução a curto e médio prazo. Mas temos que começa já!
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