Em artigo, o Professor PhD Rogério Campos/ UNIFOR relata como o processo de urbanização de bacias hidrográficas prejudica os rios. Ele cita problemas como assoreamento, erosão, inundações e degradação da qualidade ambiental.
Quando os holandeses, primeiros habitantes de Fortaleza chegaram em 1649, instalaram-se às margens do riacho Pajeú. O motivo foi o fácil acesso à água potável. Os habitantes da cidade agora consomem água de outras bacias, via transposição, uma vez que o riacho Pajeú não é capaz de mantê-los como na época da fundação.
Nestes anos de crescimento populacional e econômico, os córregos, riachos e rios da região de Fortaleza sofreram inúmeros ataques às suas bacias. Esses rios que nascem nas serras adjacentes à capital possuem via de regra, pequena vazão perene, um privilégio na região semi-árida.
O processo de urbanização de bacias hidrográficas, no mundo inteiro, impõe aos rios o seu preço e aqui não é exceção: assoreamento, erosão, inundações, degradação da qualidade ambiental, etc. Como se pode observar todo ano, mesmo os mais baixos índices pluviométricos provocam inundações na bacia do rio Maranguapinho, geralmente causando perdas materiais e de vidas humanas.
A cada ano, os governos municipal e estadual expendem recursos para socorrer a população atingida naquela bacia sem que seja dada uma solução adequada e permanente para o problema. Quando uma bacia passa por processo de urbanização, ocorre substituição da cobertura natural por áreas intensamente impermeabilizadas, a causa principal das cheias. A impermeabilização impede a infiltração das águas das chuvas, as quais escoam quase imediatamente para o tributário.
Um segundo efeito, secundário, é devido à erosão do solo que cresce exponencialmente devido à perda de sua proteção, tornando-o suscetível ao arraste pelas enxurradas. O material erodido é levado para a calha fluvial onde se sedimenta diminuindo a seção do escoamento. A área da seção dos rios tomada pelo assoreamento é compensada durante as cheias com a invasão da planície de inundação pelas águas. A planície de inundação é aquela parte menos íngreme das margens que se estende por vários metros além do canal.
A ocupação indevida de regiões inundáveis é a principal causa dos problemas trazidos pelas cheias para a população ribeirinha de Fortaleza. Sem a retirada dessas comunidades não há solução para o problema.
A prática das populações ribeirinhas em usar os rios como destinação de lixo causa além de poluição, obstrução do canal fluvial, que tem efeito semelhante ao assoreamento. Em pesquisa realizada pela Unifor nos anos de 2003 e 2004, o Projeto Sanmaran (Saneamento do Maranguapinho) financiado pela Finep com recursos do fundo setorial CTHidro, através de levantamento da situação sócio-ambiental na bacia constatou que 67,4% da população usa o rio como destino final das instalações sanitárias e 10,9% como destino final para o lixo doméstico.
Desta forma, percebe-se que a grande causa das cheias nos rios da cidade é a ocupação das planícies de inundação aliada à impermeabilização dos solos das bacias. Por isto tudo, o riacho Pajeú que socorreu os primeiros fortalezenses no início, não passa hoje de um rio morto. Mas há como ressuscitá-lo.
Artigo publicado no Jornal O POVO. Reproduzido para efeito de divulgação. Direitos autorais preservados. Imagem do Riacho Pajeú, denominação atual do antigo Rio da Telha, no centro da cidade de Fortaleza. Arquivo de Imagens Ibi Tupi. Publicada no Inventário Ambiental de Fortaleza.
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