segunda-feira, 6 de agosto de 2012
O Parque das Pessoas
Fortaleza é famosa pela beleza de seus verdes mares e pela suavidade da brisa que atenua as agruras do calor. Nos últimos anos, a cidade ganhou um novo ícone de forte peso simbólico para os cidadãos. Falamos do Parque do Cocó, dádiva do rio Cocó, com seu imenso manguezal, berçário de inúmeras espécies e responsável por uma paisagem inigualável.
Ao contrário de mar que atrai tantos turistas, o Cocó desperta enorme interesse nos fortalezenses. A criação do Parque do Cocó foi uma conquista memorável. A discussão em torno de seu uso e preservação relembra o início da saga dos movimentos sociais que tinham na questão ecológica e ambiental sua principal bandeira. A luta pelo verde urbano obriga-nos repensar Fortaleza e perguntar que cidade queremos.
Em Fortaleza, os problemas ligados ao saneamento básico ainda comprometem a qualidade e a vida e provocam sobrecarga nos recursos naturais. A escassez ou o fim de determinados recursos conduziram a duras penas à consciência ecológica. Os movimentos ambientalistas surgiram da insistência de poucos militantes, que vislumbravam a sequência de recursos naturais e paisagísticos que poderiam ter sido evitados. O crescimento desordenado provocou aterramento de lagoas, contaminação de trecos do litoral, canalização de rios e riachos, desmanche de dunas.
A cidade lamenta o distanciamento em relação à natureza e sente falta de áreas verdes capazes de proporcionar recreação e lazer. Conquistar e preservar espaços livres e verdes reaproxima-nos da natureza, permite organizar passeios, significa muito mais, é quase uma reconciliação com uma Fortaleza sofrida com seus rios e córregos descaracterizados, com um Pajeú trôpego, de frágil inscrição na paisagem urbana.
Autoestima
Ainda bem que sobrou o Cocó, salvo parcialmente da avidez especulativa! Com seu exuberante manguezal, o rio parque atenua a vida urbana, mexe com a autoestima do fortalezense. O Parque, o rio, malgrado sua beleza, expõe traços de abandono, pede socorro e mobilização da sociedade.
Em sua travessia, o Cocó insiste em embelezar a cidade. Entretanto, percebemos a agressão de sua mata ciliar, a agonia provocada pela invasão de aguapés que interfere em sua correnteza, reduz seu espelho d’água e compromete a vida de inúmeras espécies dependentes desse ambiente halófilo.
O Cocó pulsa com a cidade. A cidade pulsa com o Cocó. Rio, cidade, cidadão. Esse amálgama renova nossos laços, devolve-nos à natureza, comprova que somos parte dela. Acostumamo-nos a vê-la como algo distante da nossa condição humana. A sociedade ocidental, ciosa de seu processo civilizatório, transformou a natureza numa exterioridade. Fortaleza precisa recuperar sua imagem.
A valorização do Parque do Cocó aumenta nosso compromisso com a cidade e sua natureza, devolve parcialmente a cidade ao seu povo. A agressão à natureza acontece em todos os quadrantes da Capital. Salvar o que sobrou vira dever político, ético, obrigação cidadã.
Perdemos o Pajeú, nosso riacho histórico. Não pretendemos perder o Cocó. Podemos recuperá-lo e integrá-lo à vida de relações da cidade. Paris tem o Sena; Londres, o Tâmisa; Lisboa, o Tejo. Por que não associar Fortaleza ao Cocó, compondo mais uma imagem da cidade? Enquanto aguardamos, os movimentos ambientalistas lutam por uma nova urbanidade, onde haja maior rigor nas relações entre a sociedade e a natureza.
José Borzacchiello
borza@secrel.com.br
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Um comentário:
Sim a nova economia trabalha de frente para os Rios, ela os recoloca como corredores verdes para percursos da biota, entre eles nós miseráveis humanos.
Vamos ter esperar essa republica de bananas, redirecionar a máquina do Estado para novas formas de assimilar valor.
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