domingo, 1 de maio de 2011

Perigo em duas rodas: 4 vítimas por dia em Fortaleza


Dados da AMC revelam descaso do poder público e indiferença de quem se locomove com o veículo

O servente João Deon da Silva, de 46 anos, tem poucas coisas que se arrepende na vida. A maior, na sua avaliação, é sem dúvidas, o acidente que sofreu no dia 26 de janeiro desse ano e que por um triz não o levou à morte. Há mais de três meses internado no Instituto José Frota (IJF) tratando dos ferimentos e restabelecendo-se de uma fratura exposta na perna direita, João confessa que teve parcela maior de culpa na hora do desastre ocorrido às 6 horas próximo ao viaduto da Avenida Carlos Jereissati. Ele ia na contramão da via em sua bicicleta e foi atingido em cheio por um carro. "Agradeço a Deus por estar vivo, mas tenho sofrido muito".

O caso de João infelizmente não é exceção e sim regra de atitudes sem responsabilidade e que vêm multiplicando as estatísticas de trânsito em Fortaleza. Os dados mais recentes fechados pelo Sistema de Informações de Acidentes de Trânsito do Município de Fortaleza (Siat-For) e publicado pela Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC) são de 2009, mas não diferem muito dos dados dos últimos anos.

De acordo com o órgão gestor municipal, 10% dos acidentes no trânsito envolveram ciclistas. Nesse ano, foram 1.510 ocorrências com as chamadas "magrelas", com 1.300 feridos e 46 mortos. Do total, apenas 163 saíram sem sofrer nada.

As estatísticas do IJF também alertam para a questão. Até março desse ano, 226 pessoas foram atendidas pelo hospital devido à queda da bicicleta no meio das ruas e avenidas da Capital. Em 2010, foram 1.056 registros. Em tempo: o Frotão não distingue entre os acidentes de trânsito como colisão, abalroamentos e atropelamentos quais os tipos de veículos. Isso quer dizer, que os números com as bicicletas podem ser ainda mais altos.

Barbaridades

Quem prefere as magrelas para fugir do pesado trânsito, mas comete inúmeras barbaridades, tem na língua a desculpa que parece perfeita: a falta de ciclovias e se elas existem, a má conservação. "Dos 51 quilômetros desses espaços, pelo menos 42 km são desconexos", afirma a engenheira de trânsito Carmem Maria de Alencar. "Elas não são interligadas. Tem algumas que saem de canto nenhum e chegam a lugar algum e servem para que?", ironiza a especialista que também é ciclista. Entre os exemplos, ela cita a pequena ciclovia que sai da Rogaciano Leite e vai até a Avenida Engenheiro Santana Júnior. "Quando a gente chega na Santana Júnior vou fazer o quê? Andar no meio dos carros? ou botar a bicicletas na cabeça e sair andando?". Segundo ela, a ciclovia é hoje muito mais pista de cooper que via para bicicletas. "Isso também confunde".

Na avaliação do ambientalista Geraldo José Medeiros, nunca a bicicleta teve tantos adeptos no País e no mundo. Embora no Brasil ela viva uma constante luta por prioridade, espaço, segregado dos carros, a bike conquistou um patamar em que se coloca a necessidade de utilizá-la como modal de transporte, com o qual as pessoas vão e voltam do trabalho. Não é mais pensada apenas como um veículo de lazer para ser utilizado aos fins de semana, com a família.

É, frisa ele, um grande avanço, sem dúvida, mas se as regras, os direitos e, principalmente, os deveres dos ciclistas não ficarem muito claros, todos nós poderemos pagar um preço alto. "Isso porque, embora seja um veículo ecologicamente correto, que contribui para a saúde do homem, é fato que a bicicleta não tem segurança diante dos automóveis, caminhões ou ônibus. É Sansão contra Golias. A força do mais forte".

Fonte: Cidades/ Diário do Nordeste

Comentário da postagem: Todas as grandes cidades brasileiras que entraram no PAC MOBILIDADE propuseram implantar e/ou ampliar suas ciclovias ou ciclofaixas, além de compatibilizar a conexões entre as situações existentes. A única cidade que não fez nenhuma proposta foi Fortaleza.

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