sábado, 3 de maio de 2008

Um vergonhoso silencio no caso da UFC

Este é o título do artigo da coluna POLITICA, do Jornal O POVO, escrito pelo Jornalista Fabio Campos, que será publicado, na edição de 04/ 05/ 2008, uma crítica objetiva aos acontecimentos e a omissão das autoridades constituídas, meio político, formadores de opinião e representantes da sociedade civil.

O caso da invasão do Campus do Pici está repleto de questões cruciais. Ontem, a providencial nota da Reitoria. A nota colocou as coisas como elas de fato são. Chamou a invasão de invasão e não de ocupação. Tratou o caso como “vandalismo” e “agressão” de “oportunistas”, além de afirmar publicamente que havia oficialmente convocado as forças policiais para impedir a invasão e a depredação do patrimônio público. Quanto à nota, apenas uma observação. Ela começa dizendo que “a sociedade cearense manifestou nos últimos dias, através da imprensa e por outros meios, seu repúdio à agressão sofrida pela Universidade Federal do Ceará, com a invasão do Campus do Pici.” Infelizmente, não foi bem assim. Tais manifestações foram parcas. A apenas uma tímida nota da Associação dos Docentes da UFC e as notas oficiais da Reitoria relatando o caso. Fora isso, o espaço desta Coluna foi o único que se apresentou por inteiro a serviço da defesa da Universidade e do patrimônio público. Através dela, veio a manifestação indignada de alguns leitores. No mais, o silêncio absoluto. Não se viu uma só entidade da sociedade na defesa da UFC. A nossa representação política, em grande parte diplomada nos bancos da UFC, se manteve mergulhada num vergonhoso e lamentável silêncio.

O PASSADO É UMA ROUPA QUE NÃO NOS SERVE MAIS

Prevalece em muitos o pensamento anacrônico de que as chamadas “lutas sociais” estão acima da lei. É como se estas fossem dotadas de uma moral superior permitindo que pairem acima das regras estabelecidas pela democracia. Balela. Não há uma só “luta social” que não seja controlada por grupos políticos e/ou oportunistas comerciais. Desde o início da polêmica, a Coluna se manifestou mantendo permanente contato com a administração superior da UFC. Na sexta-feira, o reitor Josualdo Farias telefonou para a Coluna e relatou o papel desempenhado pela mesma. Papel determinante, segundo ele, para o recuo da invasão. É essa a função do jornalismo. O atraso está nos contempladores do absurdo e do desrespeito às leis. Mais ainda naqueles que dividem a crença de que a força policial pública não deve ser convocada para garantir as liberdades individuais, a integridade física de estudantes e servidores, o pleno funcionamento da nossa UFC e a salva-guarda do patrimônio público. Estes só vêem a polícia como um braço armado repressor e assassino. Um inimigo. Ora, se há dúvidas quanto ao preparo da Polícia para agir em situações de conflitos de rua, que se prepare. O passado ficou pra trás. A repressão também. Muitos ainda não se acostumaram com a idéia de que a função da polícia não é mais a da República Velha, da Comuna de Paris ou da Ditadura. Os tempos mudaram e o império é o da lei, da Constituição.

O ATRASO E OS PÓLOS QUE SE ENCONTRAM

É essa concepção atrasada a grande culpada por muitas das nossas desgraças urbanas. Tomem-se as nossas calçadas. É para o coitadinho vender suas bugigangas chinesas contrabandeadas. Ocupem as ruas do Centro e as calçadas da Catedral. É para os pobres dos mercadores venderem suas confecções sem nota fiscal. Deixem ocupar as margens da lagoa. Afinal, só querem uma casinha. Invadam o Campus da Universidade. Eles só querem um pedacinho de terra para fazer um puxadinho ao lado do Departamento de Química. Montem biroscas para vender bebidas e comidas de origem duvidosa. Nossos adolescentes, trôpegos, agradecem. Deixem proliferar o transporte clandestino mesmo sem cumprir regras mínimas de segurança. É uma rendinha a mais. É como se a UFC fosse responsável pelo déficit habitacional. É como se o cidadão que precisa de ruas e calçadas livres tivesse que pagar pela proliferação do trabalho informal. É o pensamento que acha que séculos de exploração dos pobres por uma elite escravocrata, voraz e despreparada justificam todo tipo de abuso dos que supostamente são sem-posses. Na outra ponta, os mais endinheirados que acham que também podem tudo. Atentem que esses também tomam ruas e calçadas, invadem áreas de proteção ambiental e tomam áreas públicas de assalto. Dois pólos que se encontram. O tacape da lei neles.

EM BENEFÍCIO DOS MAIS FRACOS, A REGRA

Infelizmente, é esse pensamento retrógrado que vigora na mente de muitos de nossos dirigentes públicos e de muitos ditos “intelectuais de esquerda”. A nossa política está impregnada de omissão. O que importa é o imediatismo de um voto e o aplauso fácil. Mal sabem o erro que estão cometendo. Mal sabem que o cidadão clama por regra. A regra quando estabelecida e levada a cabo sem distinções é um fator extremamente favorável aos mais pobres e mais fracos. Está nisso todo o sentido de democracia. Por fim, a contribuição de um leitor: “Os políticos omissos, interessados em guetos de votos sem compromisso com a democracia e o bem estar da sociedade, serão, em breve, os excluídos. Os que acham que não devem satisfação à sociedade por arrogância, onipotência e principalmente por ignorância dos seus papéis, serão implacavelmente esquecidos. A realidade e os fatos, são mais fortes”.

2 comentários:

David disse...

Será que as terras de Fortaleza são tão doces para o homem em trânsito?

triplicar a população em 40 anos é d_ quando a economia não gera mercado pra tanta gente. Só pode resultar mesmo nisso. Ainda mais com governos complacentes com ocupações, tão benéficas para manter a mão-de-obra a baixo custo. Pobreza tão mercadológica mas sem novidade alguma já que desde 1845 essa pobreza vem sendo usada para construir o que temos de mais nobre, a moral do trabalho.

Ocupar uma terra é nada sem ter estrutura para viver bem. Invadir a área urbana do estado é dizer que lá tem que ter utilidade. PAra a UFC, na economia do espaço, aquelas áreas são a popança da instituição, sendo lugar valioso das futuras instalações de laboratórios e estruturas de ensino, ciência e pesquisa.

Habitar nunca foi a função primordial da cidade, mas é no lar que se faz um bom cidadão.

O problema da UFC é fácil, mas a cidade vive numa sinuca: como empregar tanta gente até que seja viável a construção de habitações de baixo custo para tanta gente?

Os arquitetos e economistas da Habitafor e da prefeitura deveriam pessar mais nisso para fazer com que a "casa nova" deixe de ser moeda e passa a ser patromônio.

José Sales disse...

Infelizmente a HABITAFOR, Fundação Habtacional da Prefeitura Muncipal de Fortaleza não tem qualquer política habitacional e transformou-se em um simples balcâo de atendimentos às demandas de qualquer ordem. Campeia a incompetencia técnico - burocrática naquela instituição. Enquanto os exemplos vindos de em outras cidades tratam de outra forma as politicas de habitabilidade(Uma expressão diferente de habitação) com indicações quanto a qualificar e urbanizar algumas situações consolidadas(Rio Cidade, PAC Favela)aqui as indicações tratam de até "incentivar" a ocupação de novas áreas, como esta do Campus PICI da UFC violentando inclusive a trajetória de construção coletiva que é a própria Universidade. E neste pormenor nada interessa mais que atender "eleitoralmente", no mau sentido, as demandas de ditos cujos líderes comunitários que vivem a "vender ilusões" de casa própria a alguns carentes. O que está lá instlado não é casa própria, mas a precariedade da precariedade sob barracas de plástico preto ao sol e à chuva, destruindo anos o que houver pela frente.