segunda-feira, 8 de março de 2010

Um estaleiro de dúvidas

Há um fator surreal em toda a discussão em torno do estaleiro no Titanzinho. Até agora, passadas reuniões e audiências públicas, não veio a público um, ao menos um estudo de impacto ambiental. Sem isso, é impossível aprofundar o debate. Chega a ser irresponsável, em pleno século XXI, aderir à ideia de tal empreendimento industrial, em zona costeira urbana, sem conhecer seus efeitos sobre o meio ambiente. E, mesmo sem o componente meio ambiente ter sido ainda inserido no debate, já há uma forte e bem fundamentada oposição ao empreendimento, com base em seus impactos urbanísticos sobre uma comunidade vulnerável.

O colunista não defende, todavia, que se inviabilize um empreendimento de tal porte, que pode, sim, ser benéfico. Mas há muito a ser esclarecido, e não só com respeito à questão ambiental. Precisa, também, ficar claro o que o Estado tem a ganhar. Essa pergunta foi feita ao governador Cid Gomes e à sua equipe, quando visitaram O POVO em janeiro, para apresentar o empreendimento. A resposta: os 1,2 mil empregos diretos. E ressalvou que os cinco mil indiretos podem ser criados tanto aqui quanto na Coreia, por exemplo. Ora, parece pouco para que se abra mão de uma porção da orla urbana da cidade, demandando ainda investimento público de R$ 60 milhões. Em 2009, a média mensal de empregos gerados no Ceará & mensal & foi quatro vezes maior do que tudo que o estaleiro pretende criar. Também para efeitos de comparação, a Grendene, em Sobral, emprega um número de pessoas 20 vezes maior.

Sem mencionar que, no estaleiro de Pernambuco, instalado pelos mesmos empresários que pretendem construir no Titanzinho, apenas pouco mais da metade dos empregos gerados beneficiou a população do entorno, segundo informa o próprio site do estaleiro. Recentemente, foram trazidos soldadores do Japão. Todas essas contas de perdas e ganhos devem ser feitas com rigor para, aí, discutir-se se vale à pena pagar o preço. Defender a industrialização a qualquer custo é raciocínio do século XIX.

Fonte: Coluna Politica/ Fabio Campos/ O POVO

2 comentários:

TARDE disse...

Amigo, perdoe-me por palpitar em algo que pessoalmente não conheço. Seu post seria muito mais esclarecedor se viesse com um mapa, singelo que fosse, da área urbana a ser afetada. Conheço Fortaleza e gosto muito de lá, tenho muitos amigos e alguns parentes e já perdi a conta das vezes em que fiquei por lá. Inclusive já postei sobre o Palácio da Abolição e o descaso que eu vi na época. Mas o que me preocupa é que a batalha por se instalar ou não mais um estaleiro não esteja atrelada À instalação de uma escola do SENAI para que futuramente os soldadores não precisem vir do Japão... não basta criar a empresa, criar o emprego, é preciso que se crie também condições para que o brasileiro possa almejar este emprego, esteja qualificado para ele e em igualdade de condições com qualquer outro trabalhador.

O link para o meu texto sobre o Palácio é:
http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/1302179

Obrigado pela paciência com este comentário e parabéns pelo Blog. Sua continuidade é muito importante para a comunidade

 Taxilunar disse...

Conheço a realidade do estaleiro Atlantico Sul, em Tatuoca - Ipojuca - PE, e da comunidade que foi afetada. Tenham certeza: o que a população sabe é apenas dos "benefícios" o grande desastre ecológico, arqueológico, ambiental, social que promoveu-se com o estaleiro na ilha, ainda que o retirasse de lá, só seria recuperado depois de 150 anos. Tudo que está em volta é afetado num raio de quilômetros. Tras dinheiro mas a custo muito alto para a natureza e para as comunidades mais próximas. Se fossem intalar no meu quintal eu seria terminantemente contra.