Essa decisão foi tomada apesar das centenas de milhares de empregos perdidos e foi certamente facilitada pelo fato de haver outras fontes de madeira. Sempre há países dispostos a vender seu patrimônio natural a preço de banana para que poucos privilegiados embolsem a verba e vão morar em algum lugar fashion enquanto deixam um leste do Pará para trás.
Aqui no Brasil, depois de ver os desastres em Santa Catarina, onde encostas cobertas por bananais vieram abaixo, em Minas Gerais, onde encostas peladas porquê florestas viraram carvão para alimentar siderúrgicas, e São Paulo, onde várzeas ocupadas para saldar dívidas sociais acabaram afogando a pobres e remediados, nosso maior expoente comunista, o alagoano Aldo Rebelo, propõe modificar o Código Florestal para permitir a ocupação de áreas ecologicamente frágeis e, na prática, facilitar o desmatamento.
Enquanto os pragmáticos capitalistas do PC chinês tomaram um choque de realidade, absorveram a lição e adotaram medidas dolorosas, mas necessárias, Aldo Rebelo e sua inusitada claque de ruralistas tentam ocultar a realidade com um bizarro discurso ideológico, propagando que apoiar o desmatamento e o perdão a quem nunca se preocupou com o cumprimento de leis é ser nacionalista, defendendo os interesses do Brasil Potência e nosso destino manifesto de líder mundial contra interesses perversos aqui representados por ONGs estrangeiras e um vasto leque de malfeitores.
O nacionalismo já foi famosamente descrito como o último recurso dos idiotas e vale lembrar que um famoso movimento nacionalista, o Verde-Amarelismo de Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, também foi batizado por seus mentores de Escola da Anta. Com perdão ao perissodáctilo, talvez seja hora de ressuscitar o termo.
A inclusão do nacionalismo nos debates sobre o Código Florestal é desalentador, ainda mais considerando como o nacionalismo justificou políticas desastrosas no Brasil, da destruição das ferrovias em prol das rodovias por um idiota que dizia que governar é abrir estradas (e pagar empreiteiras), o “ocupar para não entregar” na Amazônia e sem número de baboseiras nas políticas de educação, ciência e tecnologia.
De fato, os nacionalistas daqui não são diferentes dos nacionalistas do lobby norte-americano do algodão ou daquele dos agricultores franceses. Cada um quer é defender o seu às custas dos outros e nenhum merece respeito.
A sobreposição entre os interesses da agropecuária e os da Nação é muito menor que a propaganda ruralista faz crer. Sim, a agropecuária tem sido uma das âncoras de nosso bom desempenho econômico. Mas também é uma das âncoras que impedem nossa saída do século XVI. É difícil ver porquê é melhor para o país que chineses engordem porcos com soja cultivada às custas do Cerrado que recarrega os afluentes do São Francisco ou do Tocantins, ou que libaneses importem gado em pé criado na mesma Amazônia que gera as chuvas que caem em São Paulo.
Esperava-se que houvesse um pouco mais de inteligência nas discussões sobre o Código Florestal, mas em um país com 20% de analfabetos funcionais não é surpreendente que o mais importante, que é o debate qualificado, tenha deixado a desejar.
O mais chamativo é a exclusão da comunidade científica do debate. O grande componente “técnico” utilizado na montagem da proposta de mudanças do Código costurada por Rebelo é o famoso estudo da EMBRAPA que, depois de cotejado a outro estudo feito pela ESALQ que avaliou suas conclusões mais chamativas, tem hoje a mesma credibilidade das declarações de Paulo Maluf sobre a limpeza de sua ficha.
O Código Florestal trata de biodiversidade, serviços ambientais, paisagens sustentáveis, hidrologia e erosão. Os grandes especialistas e instituições nestas áreas, e a Ciência brasileira tem grandes nomes, não foram ouvidos, para não dizer que foram excluídos. Difícil imaginar atitude mais obscurantista, mas deve-se lembrar que Rebelo representa uma ideologia política que morreu no século XX e sobrevive apenas em parques antropológicos como Cuba e Coréia do Norte e algumas mentes perturbadas que querem ser Fidel ou Kim Jong Il quando crescerem.
Sim, há pontos do Código Florestal que podem e devem ser discutidos para que o instrumento seja aprimorado. Há usos agropecuários que podem ser compatibilizados com biodiversidade e serviços ambientais e deveriam ser incentivados. Há formas de construir paisagens que comportem economia, biodiversidade, serviços ambientais e resiliência a desastres naturais. Outros países, inclusive alguns que no discurso de vários ignorantes surgem como se fossem totalmente destruídos, tentam fazer isso há décadas. Poderíamos usar estas experiências.
É isso que deveríamos estar discutindo, não o sexo das ONGs e teorias conspiratórias.
Agora tivemos uma nova catástrofe nada natural que deveria servir para qualificar o debate sobre o Código Florestal e direcionar a discussão para o que realmente interessa. Chuvas intensas resultantes de temperaturas anormalmente altas fora da costa nordestina causaram deslizamentos, enchentes e mortes na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas. Evento que será mais comum conforme o clima global muda.
O nome Zona da Mata é uma piada, já que restam menos de 5% de cobertura florestal nessa região que já foi coberta por Mata Atlântica. Vale notar que boa parte do desmatamento ocorreu no fim da década de 1970 e na de 1980 (ou seja, depois do Código Florestal existir), na esteira de um PROALCOOL pesadamente subsidiado pelo governo federal, do jeito que o ruralista brasileiro gosta.
Nessa região o Código Florestal sempre foi letra morta, a maior parte da terra e todo o poder político e econômico é das agroindústrias, estas recebem generosos incentivos e subsídios governamentais (como isenção de impostos pelo governo alagoano) e não há a menor condição de surgir alguma atividade que possa competir com a dos donos do lugar.
De fato, os nacionalistas daqui não são diferentes dos nacionalistas do lobby norte-americano do algodão ou daquele dos agricultores franceses. Cada um quer é defender o seu às custas dos outros e nenhum merece respeito.
A sobreposição entre os interesses da agropecuária e os da Nação é muito menor que a propaganda ruralista faz crer. Sim, a agropecuária tem sido uma das âncoras de nosso bom desempenho econômico. Mas também é uma das âncoras que impedem nossa saída do século XVI. É difícil ver porquê é melhor para o país que chineses engordem porcos com soja cultivada às custas do Cerrado que recarrega os afluentes do São Francisco ou do Tocantins, ou que libaneses importem gado em pé criado na mesma Amazônia que gera as chuvas que caem em São Paulo.
Esperava-se que houvesse um pouco mais de inteligência nas discussões sobre o Código Florestal, mas em um país com 20% de analfabetos funcionais não é surpreendente que o mais importante, que é o debate qualificado, tenha deixado a desejar.
O mais chamativo é a exclusão da comunidade científica do debate. O grande componente “técnico” utilizado na montagem da proposta de mudanças do Código costurada por Rebelo é o famoso estudo da EMBRAPA que, depois de cotejado a outro estudo feito pela ESALQ que avaliou suas conclusões mais chamativas, tem hoje a mesma credibilidade das declarações de Paulo Maluf sobre a limpeza de sua ficha.
O Código Florestal trata de biodiversidade, serviços ambientais, paisagens sustentáveis, hidrologia e erosão. Os grandes especialistas e instituições nestas áreas, e a Ciência brasileira tem grandes nomes, não foram ouvidos, para não dizer que foram excluídos. Difícil imaginar atitude mais obscurantista, mas deve-se lembrar que Rebelo representa uma ideologia política que morreu no século XX e sobrevive apenas em parques antropológicos como Cuba e Coréia do Norte e algumas mentes perturbadas que querem ser Fidel ou Kim Jong Il quando crescerem.
Sim, há pontos do Código Florestal que podem e devem ser discutidos para que o instrumento seja aprimorado. Há usos agropecuários que podem ser compatibilizados com biodiversidade e serviços ambientais e deveriam ser incentivados. Há formas de construir paisagens que comportem economia, biodiversidade, serviços ambientais e resiliência a desastres naturais. Outros países, inclusive alguns que no discurso de vários ignorantes surgem como se fossem totalmente destruídos, tentam fazer isso há décadas. Poderíamos usar estas experiências.
É isso que deveríamos estar discutindo, não o sexo das ONGs e teorias conspiratórias.
Agora tivemos uma nova catástrofe nada natural que deveria servir para qualificar o debate sobre o Código Florestal e direcionar a discussão para o que realmente interessa. Chuvas intensas resultantes de temperaturas anormalmente altas fora da costa nordestina causaram deslizamentos, enchentes e mortes na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas. Evento que será mais comum conforme o clima global muda.
O nome Zona da Mata é uma piada, já que restam menos de 5% de cobertura florestal nessa região que já foi coberta por Mata Atlântica. Vale notar que boa parte do desmatamento ocorreu no fim da década de 1970 e na de 1980 (ou seja, depois do Código Florestal existir), na esteira de um PROALCOOL pesadamente subsidiado pelo governo federal, do jeito que o ruralista brasileiro gosta.
Nessa região o Código Florestal sempre foi letra morta, a maior parte da terra e todo o poder político e econômico é das agroindústrias, estas recebem generosos incentivos e subsídios governamentais (como isenção de impostos pelo governo alagoano) e não há a menor condição de surgir alguma atividade que possa competir com a dos donos do lugar.
Os resultados socioeconômicos são bem conhecidos, especialmente na Alagoas de Aldo Rebelo. Antes uma filial do Haiti que parte do Brasil, o estado só é relevante por impor ao país algumas das figuras políticas mais execráveis da história recente. Destruir as florestas da região para suprir os interesses das usinas de cana e criadores de gado como a família Calheiros passou longe de resultar em desenvolvimento social e econômico.
Os resultados ambientais estão aí, no noticiário. Como já aconteceu antes e continuará acontecendo, encostas cobertas por cana e pasto não puderam absorver as chuvas, várzeas que foram drenadas e ocupadas por cana não absorveram a vazão aumentado dos rios, o pessoal ocupou áreas que não deveriam ser ocupadas e se repetiu a tragédia de sempre. Tudo previsível. Tudo evitável.
Quero me fazer bem claro: as cidades da Zona da Mata de Alagoas e Pernambuco foram destruídas, pessoas foram mortas e uma pesada conta de reconstrução terá que ser paga pelo trouxa do contribuinte porque o Código Florestal não foi respeitado.
Se as encostas com mais de 45 graus, topos de morro, margens de rio e várzeas tivessem as florestas e alagados que ali um dia existiram essa tragédia não teria acontecido. Ponto. O resto é detalhe.
Aldo Rebelo discorda. Ele diz que as pessoas foram vitimadas pela catástrofe porque são pobres, como se sistemas climáticos, hidrologia e processos erosivos discriminassem suas vítimas por renda. É interessante como a ideologia cega mesmo quando a realidade lhe dá uma bofetada na cara, mas o que esperar de quem continua comunista no século XXI?
A Zona da Mata é o que mais se parece com a cara do Brasil desejado pelos ruralistas primitivos que querem uma legislação ambiental segundo seus interesses, e não os interesses de todos. Não sei quanto ao leitor, mas acredito que um país coberto por cana, soja e pasto, com florestas, cerrados e pantanais apenas em poucos cacos que sobraram por acaso, é um país extremamente desagradável de se viver. Como o é a Zona da Mata.
Em meados do século XVIII os abolicionistas ingleses já lançavam campanhas contra o consumo de açúcar vindo de plantações que usavam escravos, embora o Império Britânico tivesse colônias açucareiras escravistas. Certamente houve que chamou estas pessoas de anti-patrióticas. Hoje não se discute quem estava certo. O mesmo acontecerá com quem acha que destruição da Natureza para exportar commodities agrícolas baratos é um ato patriótico.
Pense quando for votar. Uma Nação melhor pode surgir se premiarmos alguns de nossos “nacionalistas” com o desemprego.
Os resultados ambientais estão aí, no noticiário. Como já aconteceu antes e continuará acontecendo, encostas cobertas por cana e pasto não puderam absorver as chuvas, várzeas que foram drenadas e ocupadas por cana não absorveram a vazão aumentado dos rios, o pessoal ocupou áreas que não deveriam ser ocupadas e se repetiu a tragédia de sempre. Tudo previsível. Tudo evitável.
Quero me fazer bem claro: as cidades da Zona da Mata de Alagoas e Pernambuco foram destruídas, pessoas foram mortas e uma pesada conta de reconstrução terá que ser paga pelo trouxa do contribuinte porque o Código Florestal não foi respeitado.
Se as encostas com mais de 45 graus, topos de morro, margens de rio e várzeas tivessem as florestas e alagados que ali um dia existiram essa tragédia não teria acontecido. Ponto. O resto é detalhe.
Aldo Rebelo discorda. Ele diz que as pessoas foram vitimadas pela catástrofe porque são pobres, como se sistemas climáticos, hidrologia e processos erosivos discriminassem suas vítimas por renda. É interessante como a ideologia cega mesmo quando a realidade lhe dá uma bofetada na cara, mas o que esperar de quem continua comunista no século XXI?
A Zona da Mata é o que mais se parece com a cara do Brasil desejado pelos ruralistas primitivos que querem uma legislação ambiental segundo seus interesses, e não os interesses de todos. Não sei quanto ao leitor, mas acredito que um país coberto por cana, soja e pasto, com florestas, cerrados e pantanais apenas em poucos cacos que sobraram por acaso, é um país extremamente desagradável de se viver. Como o é a Zona da Mata.
Em meados do século XVIII os abolicionistas ingleses já lançavam campanhas contra o consumo de açúcar vindo de plantações que usavam escravos, embora o Império Britânico tivesse colônias açucareiras escravistas. Certamente houve que chamou estas pessoas de anti-patrióticas. Hoje não se discute quem estava certo. O mesmo acontecerá com quem acha que destruição da Natureza para exportar commodities agrícolas baratos é um ato patriótico.
Pense quando for votar. Uma Nação melhor pode surgir se premiarmos alguns de nossos “nacionalistas” com o desemprego.
Fonte: Fábio Olmos é biólogo e doutor em zoologia. Tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia.Publicado em 06/ Julho/ 2010. Portal O ECO
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