segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Fortaleza cada vez mais vertical

Processo, avaliado como "mal necessário", toma toda a cidade e é irreversível na opinião de vários especialistas.

O ato de morar faz parte da própria história do desenvolvimento da vida humana. Isso significa dizer que não podemos viver sem ocupar lugar no espaço. E aí, dizem especialistas, o quebra-cabeça: como construir moradia, conciliando bem-estar, segurança, meio ambiente, para cada vez mais pessoas?

Em Fortaleza, por exemplo, isso é um desafio: a cidade possui 313 quilômetros quadrados de área e 2,5 milhões de habitantes. A Capital, como a maioria das metrópoles mundiais, responde a questão acima seguindo um único caminho: verticalizar. E tem feito isso de forma muito rápida. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fortaleza e municípios da sua Região Metropolitana puxam essa tendência: 18,4% da população moram em edifícios. O número, inclusive, é maior do que a média nacional. No Brasil, diz o IBGE, 12,3% das pessoas habitam em apartamentos.

A questão divide arquitetos, urbanistas, ambientalistas, empresários do setor e população em geral. De um lado, uns apontam os altos edifícios como os vilões que impedem a livre circulação de vento, provocando mudanças nas condições climáticas com o aumento da temperatura e proliferação de doenças.

A arquiteta Maria Helena Reynaldo aponta outra questão a ser debatida: a interferência paisagística que os altos edifícios ocasionam. Para ela, a cidade verticalizada perde parte do seu horizonte e, consequentemente, diminui a perspectiva de visão da paisagem natural. Não se trata somente dessa perda, mas também da salubridade urbana. "Esse caminho traz consigo uma progressiva perda do sentimento de "ver e sentir a cidade", da emoção e da própria consciência do espaço urbano".

Não é para tanto, afirmam outros estudiosos. Na avaliação da professora de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Maria Elisa Zanella, muitos são os fatores que influenciam na temperatura e outros problemas de uma cidade. A retirada da cobertura vegetal e sua substituição pela urbanização gera mudanças no balanço de energia. Além das construções, aponta, o asfalto, o aumento da frota de veículos, o aterramento dos corpos hídricos aumentam a temperatura.

As temperaturas mais elevadas são observadas em bairros como o Damas, Henrique Jorge, Centro, dentre outros. Segundo ela, as áreas mais densamente urbanizadas são mais quentes. As áreas com presença de cobertura vegetal são as que apresentam as menores temperaturas. Existem estudos que mostram diferenças de até cinco graus entre o Parque do Cocó e o Bairro Damas, por exemplo.

Na visão da socióloga, Eunice Domingos, a maioria da população reclama dos efeitos da verticalização, mas a atração por morar em condomínios, seja na Aldeota ou Messejana, é crescente. Equipamentos modernos, afirma, como a tecnologia da energia solar e gerador de eletricidade já fazem parte do pacote essencial aos prédios da Capital. Além de agregar valor aos novos empreendimentos, os itens enchem os olhos dos moradores mais exigentes.

O economista Pedro Henrique Pereira salienta que incentivar a descentralização desse tipo de empreendimento para outras áreas que já possuem infraestrutura, como a Parquelândia e Antônio Bezerra também já pode ser observada. "A cidade cresce para cima em todos os bairros".

Fonte: Cidades/ Diário do Nordeste.

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