terça-feira, 5 de julho de 2011

Árvores mortas no parque são motivo de preocupação


Detrás da avenida Rogaciano Leite descansa parte da área do Parque do Cocó, onde desaguam esgotos domésticos e drenagens pluviais. Árvores mortas preocupam moradores.

Pela janela lateral, o amarronzado começou a tomar o mangue do Cocó. A arquiteta de 31 anos desconfiou e resolveu contatar O POVO para investigar os motivos das árvores caídas logo depois do período chuvoso cearense, nas mediações da concessionária Iguauto, na avenida Rogaciano Leite. Mal desconfiava dos vizinhos – menos ainda de si mesma. Escondidas entre a vegetação densa, manilhas de esgotamento sanitário e de drenagem pluvial.

Luciano Cavalcante, Guararapes e Água Fria são bairros onde o esgotamento sanitário feito pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) ainda não chega. As soluções encontradas pelos moradores envolvem estações de tratamento de esgoto independentes, sujeitas à fiscalização semanal da Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), e ligações clandestinas com as manilhas de drenagem - ilegais por natureza. Caso a fiscalização da Semam seja frouxa, a água lançada no rio Cocó não é tratada a contento, e quem mora próximo ao parque polui a natureza sem saber.

“Moro aqui (em condomínio da avenida Rogaciano Leite) há quatro anos, nunca vi o período pós-chuvas com as árvores tão apodrecidas - mesmo em 2009, quando as chuvas foram piores”, lamenta a moradora denunciante. O vizinho ao dela foi condomínio autuado pela Secretaria Executiva Regional II na manhã de ontem, graças à denúncia do O POVO. Calhas, filtros e tanques de cloração estão desgastados, logo, o líquido desaguado no Parque do Cocó não é tratado a contento. Os prejuízos do desleixo apenas começam na paisagem além da janela.

Mas o condomínio da arquiteta tampouco é favorecido pelo macro-sistema de esgotamento sanitário da Cagece. A resolução dada aos dejetos é dependência exclusiva da Semam e da administração do edifício. Em resposta aos esforço submetidos pela Regional II e pela Cagece, a Semam, através de nota produzida pela assessoria de imprensa, confirmou a fiscalização frequente do condomínio autuado e garantiu enviar nova equipe fiscal ao prédio.

Apesar de o alarde para o tratamento do esgoto doméstico ter nascido a partir das árvores mortas, especialistas garantem: a poluição causadora do fenômeno é de ordem química, não orgânica (como é o caso do esgoto doméstico). Desta feita, os estabelecimentos comerciais da redondeza estão sob suspeita.

É natural para as plantas resistentes do mangue essa alternância entre seca e verde. “O mangue é muito cíclico. Na nossa região, quando chove demais, como esse ano, as árvores enfrentam a salinidade zero. Quando fica seco, o contrário, a salinidade se eleva muito”, esclarece o engenheiro de pesca Wladimir Lobo.

A preocupação da denunciante e dos especialistas não ignora essa naturalidade. Poluição química despejada sobre o parque pode provocar morte permanente dessas plantas. Coleta da água e análise laboratorial resolvem a dúvida.

ENTENDA A NOTÍCIA

Águas de esgoto e de drenagem desaguam no rio Cocó de maneira silenciosa e muitas das vezes invisível. Quando a vista de casa para o verde do parque é modificada pela ameaça poluente, a população tem acesso a verdades menos coloridas do que as vendidas pelas construtoras de prédios.

Fonte: O POVO Online

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