Faça-se um desafio. Peçamos a um deficiente visual ou a um cadeirante para enfrentar 50 metros de calçada de Fortaleza. Ao invés do passeio, o calvário. A coisa funciona assim: rua com alguns buracos provoca indignação. Calçada irregular é solenemente tolerada. Ninguém liga.
Em Fortaleza, calçada é lugar dos mais humildes. Na aldeia Aldeota, onde temos as melhores calçadas, elas são parcamente povoadas. Por lá, quase que tão somente as empregadas domésticas que chegam e saem do trabalho.
Atentem para um fato: quase não vemos deficientes físicos nas ruas da cidade. Eles são poucos? Não, não. São muitos. A Europa e os EUA produziram legiões de cadeirantes em função das guerras. Nossa guerra cotidiana é a violência urbana, que se expressa com grande voracidade no trânsito. São centenas os sequelados a cada ano.
Mas, onde eles estão? Provavelmente, aprisionados nos limites de suas casas. Não há para onde ir. O passeio é um tormento. A (falta de) acessibilidade é um escândalo. Ninguém liga.
Voltemos às calçadas. Elas pouco importam. Para comprar o pão matinal, pega-se o carro ou envia-se a “secretária” para a calçada. Em nossa cidade, calçada é extensão da rodovia. Que se lixe o distinto público pedestre. A máquina impera.
É cruel a cena do idoso tentando caminhar na calçada. Há batentes, há buracos, há obstáculos. Quase sempre, estão ocupadas por carros estacionados. O jeito é caminhar na rua e disputar espaço com o trânsito. Alguém se importa?
Qual nada. O buraco na rua é que mobiliza os ódios. Buraco é fácil de resolver. Basta tapar. Mas, e a impiedosa cultura urbana de desprezar o direito às calçadas? Não há “operação tapa-buracos” para isso.
A responsabilidade pelas calçadas é dos proprietários dos imóveis. São eles que estão obrigados a adequar os passeios às regras vigentes. Ao município, cabe fiscalizar. Na dura realidade cotidiana, nem uma coisa, nem outra. O resultado é o que conhecemos.
A propósito, a Prefeitura está construindo calçadas impecáveis no âmbito do Transfor. Largas, uniformes, seguras. Tudo como manda a regra em vigor. Vejam, como exemplo, um trecho da Padre Valdevino ou a Bezerra de Menezes. Vejamos quanto tempo vão durar.
Fonte: Coluna Fábio Campos/ O POVO Online
domingo, 19 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário