terça-feira, 6 de setembro de 2011

Estudo avalia ambulantes da José Avelino


Propostas de requalificação do Centro foram debatidas; um dos projetos defende a volta de famílias para o bairro

Sacolas espalhadas por todos os lados, muita sujeira e falta de acessibilidade para pedestres. A situação do comércio informal no Centro da Capital está se tornando cada vez mais insustentável. De um lado, os ambulantes relatam que essa é um maneira digna que eles encontram de ganhar a vida. Do outro, a ocupação desordenada dos espaços públicos transformam as ruas do entorno da Catedral de Fortaleza em um verdadeiro caos urbano.

Na manhã de ontem, com os portões do Mercado Central fechados para reforma, os ambulantes aproveitaram para expor os seus produtos nas calçadas.

Para reverter essa situação, a Prefeitura de Fortaleza encomendou uma pesquisa para o Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da Universidade Estadual do Ceará (Iepro). O diagnóstico, que foi recebido ontem pela titular da Secretaria Regional do Centro (Sercefor), Luiza Perdigão, irá propor soluções práticas para a situação. No entanto, o estudo ainda não tem data para ser apresentado.

Estiveram reunidos, ontem, em um fórum no Centro Cultural do Banco do Nordeste políticos, representantes da Prefeitura de Fortaleza e da iniciativa privada para debater as propostas de requalificação do Centro. Dentre os projetos previstos para a área, há um que pretende trazer de volta famílias para morar no bairro com a ajuda da iniciativa privada e o reordenamento definitivo do comércio ambulante.

Desordem

Também na manhã de ontem, a reportagem esteve nas imediações do mercado e da Catedral e presenciou centenas de vendedores no local. Em contrapartida, um grupo de 15 fiscais da Prefeitura de Fortaleza passeava entre as mercadorias como se estivessem de braços atados diante da multidão.

Para um dos coordenadores dos fiscais, que não quis ser identificado, a tarefa deles é apenas impedir que os ambulantes coloquem mercadoria nas calçadas ou nas grades do mercado. Entretanto, muitas vezes, segundo ele, a situação fica insustentável. "Eles começam a chegar aqui no domingo de manhã para marcar território. Quando chega uma hora dessas, está assim. Não podemos expulsá-los, só tentamos minimizar a desordem", ressalta o coordenador.

De acordo com Luiza Perdigão, o estudo realizado pelo Iepro avaliou o perfil dos ambulantes, o que eles vendem, onde moram e a possibilidade de novos espaços para o comércio informal. A partir daí, a Prefeitura irá elaborar um plano de reordenamento do comércio. "Ali, na Rua José Avelino e imediações, temos de ter uma solução radical, os ambulantes não podem continuar ocupando aquele espaço", ressalta Luiza.

Ainda segundo a secretária, não são só os ambulantes da Rua José Avelino que estão sendo avaliados. Um estudo para apontar quais locais de Fortaleza precisam ganhar os camelódromos é realizado por uma empresa privada e deve ser finalizado em outubro deste ano. "Vamos propor ideias para realocar os mais de 2 mil camelôs que ocupam as calçadas do Centro. Estivemos em Curitiba para ver a experiência de lá. E, se em outra cidades o reordenamento deu certo, aqui também pode dar. No entanto, temos consciência de que sozinhos não podemos fazer nada, necessitamos da iniciativa privada", analisa Luiza Perdigão.

Desafio

Para Alexandre Cialdini, secretário de Finanças do município, não há espaços para que o poder público possa ceder à informalidade. Ainda conforme ele, no quesito fiscal, o sistema tributário é capaz de atender qualquer empreendedor. "O grande desafio da sociedade organizada é estabelecer espaços para revitalizar o Centro. O que não podemos é aceitar a informalidade", afirma Cialdini.

O secretário justifica a sua posição dizendo que quanto mais vagas forem criadas com a isenção de tributos, mais vendedores irão surgir. "Se a Prefeitura abre espaços, gera um desordenamento bem maior, pois podemos chegar a um ponto de ter mais vendedores do que compradores", destaca.

Histórico

Há muito se ouve falar em projetos para a requalificação do Centro de Fortaleza. Na atual gestão, por exemplo, o assunto vem sendo tratado desde 2007, quando foi criada a Sercefor.

Em julho de 2009, em uma reunião no Sindicato dos Lojistas de Fortaleza (Sindilojas), Luiza Perdigão diagnosticou a situação do Centro e falou que a requalificação já havia começado. Em maio de 2010, a secretária informou da necessidade de parcerias público-privadas para a execução dos projetos. Em maio deste ano, ela apresentou aos vereadores da Câmara Municipal o plano de requalificação e reurbanização do Centro.

Caos urbano

2 mil camelôs ocupam as calçadas do Centro, segundo a titular da Secretaria Regional do Centro, Luiza Perdigão, que diz que é necessária a ajuda da iniciativa privada

15 fiscais da Prefeitura passeavam, ontem, entre os ambulantes. Segundo um dos coordenadores do grupo, o trabalho deles é apenas impedir mercadorias nas calçadas

DESCONFORTO
Falta de banheiro incomoda

Além do sufoco e das dificuldades de locomoção, quem transita diariamente pelas ruas do Centro também enfrenta o problema da falta de banheiros públicos. Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), cerca de 350 mil pessoas circulam pelo Centro por dia, e a falta desses equipamentos causa sérios problemas.

Ontem pela manhã, o aposentado José Idalino de Sousa teve de utilizar o banheiro do Centro de Especialidades Médicas José de Alencar (Cemja) na hora do "aperto". "O guarda municipal foi chapa e me deixou entrar, mesmo sem ter consulta. Mas, agora, de qualquer jeito vou ter que esperar", contou.

O motivo para a espera do aposentado é que o banheiro feminino do Cemja estava interditado, e foi preciso revezar o uso do banheiro masculino entre homens e mulheres. "É muito desconfortável usar o banheiro dos homens. Eles não têm muita higiene, fora que tem que esperar mais. Para quem toma remédio diurético, como eu, é um sofrimento", desabafa a dona de casa Lucimar Silveira, de 65 anos.

Outra senhora na fila instruía a filha a não encostar no vaso sanitário, enquanto aguardavam sua vez. Um funcionário da unidade de saúde, que não quis se identificar, disse que a descarga do banheiro feminino havia quebrado ontem pela manhã, e estavam à espera da equipe de manutenção para o conserto.

Fora dali, quem precisa fazer suas necessidades fisiológicas precisa contar com a boa vontade dos lojistas. Outra opção é utilizar os banheiros químicos das praças dos Leões e da Estação. Mas são apenas cinco banheiros, número insuficiente para atender ao grande fluxo de pessoas nesta área comercial.

Soluções em estudo

A titular da Secretaria Executiva Regional do Centro (Secerfor), Luiza Perdigão, reconhece o problema e a escassez atual de equipamentos para suprir o público que vai ao Centro. Mas argumenta não ser possível pensar numa solução em que apenas o Município deva arcar.

"Já tivemos banheiros públicos no Centro de Fortaleza nos anos 1970, mas eles eram constantemente depredados pela população. Na Praça dos Leões, mesmo com os banheiros químicos, muita gente persiste em fazer suas necessidades no coreto", argumenta.

Quanto aos banheiros químicos, a secretária informou que está em processo de licitação a contratação de mais unidade na Praça José de Alencar e Passeio Público, como um paliativo. Mas, segundo ela, as possíveis soluções ainda estão em estudo e não têm previsão para serem implementadas.

Fonte: Cidades/ Diário do Nordeste Online

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