domingo, 14 de novembro de 2010

Desalento e esperança no centro das cidades


A situação em que se encontram os centros das grandes cidades brasileiras e as ações lá desenvolvidas mistura desalento e esperança. O desalento se deve às dimensões que o problema tomou, caracterizado pela ineficiência das ações postas em prática e pelas centenas de edificações semi-abandonadas; a esperança decorre de iniciativas pontuais do poder público e da sociedade civil que demonstram ser possível requalificar os diferentes centros. No caso de Fortaleza, as ações ficam por conta da realização de eventos relacionados ao pré-carnaval, festas juninas, Copa do Mundo e ao Natal – para citarmos alguns exemplos; ou na reabilitação de edificações degradadas, seja para finalidade original, como é o caso da Igreja do Rosário, ou alterando o tipo de uso, como as obras de restauro concluídas. Para o último caso citamos o Hotel São Pedro (que já abriga o Crea) e a Sociedade União Cearense e o Palacete Carvalho Mota, onde funcionarão, respectivamente, o IAB/Museu da Indústria e o Centro de Documentação do Semi - Árido/DNOCS.

Em São Paulo, o centro tem uma vitalidade extraordinária pelo seu eficiente sistema de transporte e os usos de diversa natureza: serviço, comércio, habitação e centros culturais. É bem verdade que os problemas são grandes, como segurança deficiente, usuários de crack, moradores de rua, limpeza e estacionamentos insuficientes. Mas um novo alento invade os bairros que formam o grande centro expandido paulistano. Sem muito alarde, a região central passa por nova qualificação. Empresas se empenham em dar novo uso a prédios abandonados, principalmente o uso residencial, e não falta quem queira adotar a área como seu lugar de morada. Neste ano, bairros como a República e a Sé assistiram à reforma ou restauro de inúmeros edifícios. O antigo hotel Marian, erguido na década de 1940 e tombado pelo patrimônio estadual, é um deles. E o preço é acessível (R$ 4mil o m2) se comparado a outras regiões da cidade, como a Vila Nova Conceição (R$ 16 mil), que fica na zona sul e é uma das regiões mais cara de SP.

Os que procuram comprar apartamentos nos edifícios restaurados no centro paulistano são pessoas que querem morar perto dos seus trabalhos e que também estão convictas das facilidades que a região oferece e na valorização do patrimônio adquirido. A estratégia dos empreendedores para atrair um número cada vez maior de pessoas é oferecer atrativos tais como internet sem fio, área de lazer e até estacionamento grátis por um ano – além, claro, da expressividade arquitetônica dos edifícios tombados. O poder público também procura atuar no centro e a Prefeitura dá forma ao seu projeto de habitação na região - o Renova Centro, cujo investimento está estimado em 400 milhões. A idéia é desapropriar uma série de prédios vazios e abrigar famílias com renda entre três e 10 salários mínimos, de modo a levar habitação e diversidade ao centro.

No que pese a importância das referidas iniciativas, eventos e reabilitação de imóveis realizados de forma isolada são insuficientes para mudar a situação de uma região. Para que a esperança vença o desalento é preciso ações sistêmicas e mais fortes promovidas pela iniciativa privada e pelas distintas instâncias do poder público, com intervenções discutidas e negociadas com a sociedade civil e resultantes do planejamento urbano pensado para o conjunto da cidade. O modelo a ser seguido por certo deve ser pela manutenção do comércio e serviços e a utilização do patrimônio imobiliário ocioso com habitação; utilização dos edifícios de interesse histórico e arquitetônico com atividades culturais, artísticas ou ligadas aos serviços públicos; e, ainda, a recuperação de espaços públicos abertos e paisagisticamente expressivos, voltados para o congraçamento e o deleite visual, como é o caso do Passeio Público de Fortaleza, hoje restaurado e em atividade.

Enfim, pela importância simbólica e econômica dos centros das cidades é urgente que a requalificação de cada um seja intensificada. Grande são os desafios para o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil, mas já temos boas notícias a comemorar.
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Com dados da revista São Paulo veiculada pelo jornal Folha de São Paulo, de 07/11/2010


Imagens:
IAB-CE/Museu da Indústria (Fortaleza-CE)
Igreja de Santa Ifigênia e edifício Marian (São Paulo)

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