Em sua saga de "país do futuro", o Brasil sempre correu atrás de um grande objetivo: ser reconhecido como grande, estar entre os maiores, no que parece estar tendo êxito. Pelo menos quando se fala em economia. Para os mais céticos, é até difícil conceber como real o fato de o Brasil ser hoje a 6ª maior economia do mundo.
E, como se isso não fosse suficiente, o nosso Presidente Lula anunciou em Londres, para inglês e o resto do mundo ver e ouvir, que no máximo em dez anos já ocuparemos o posto de 5ª maior economia. A vultosos 5%, 6% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, como o governo projeta de 2010 em diante, não será difícil alcançar esse objetivo.
O engraçado é que, ao vislumbrar estar os grandes, os desenvolvidos, eu imaginava que veria um Brasil bem diferente, sem meninos e meninas pedindo moedas nos sinais ou vendendo seus corpos nas BRs, com escolas de qualidade para todos, com condições de moradia decentes para todos, com hospitais de pronto e eficiente atendimento para todos. Mas não é assim.
No ranking de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, o Brasil aparece em 75ª colocação (numa relação de 182). Quando falamos de educação, o Brasil vive o dilema de ter colocado quase 100% das crianças na escola, mas com a grande parcela não conseguindo sequer ler ao chegar ao 5º ano. Há, então um evidente descompasso entre o Brasil que cresce e o Brasil que sofre.
Esse descompasso é reflexo de toda a desigualdade que vivemos e que conhecemos desde que o Brasil é o Brasil. Há muito dinheiro para poucos e pouco para muitos. A divisão do bolo, como sugeriu Delfim Netto lá no “milagre econômico” dos militares, do início da década de 1970, nunca aconteceu. O bolo cresceu, cresceu, mas a maioria ainda divide as migalhas. Ter como meta crescer por crescer não é suficiente e nem de longe significa desenvolvimento. A busca pelo desenvolvimento social é bem mais longa, árdua e demanda muito mais investimento, e isso não é exclusividade brasileira, não. Só de olhar a lista das cinco maiores economias já dá pra perceber que a lógica do capital é cruel: os “top 5” são Estados Unidos, com seu imenso caos da saúde e da habitação, China, com salários baixíssimos e carga de trabalho desumana, o Japão, com filas de desemprego se amontoando, e a Índia, com suas castas que mantém uma desigualdade milenar.
Por Kamila Fernandes, na Coluna Politica do Jornal O POVO. kamilaferndes@opovo.com.br
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