domingo, 15 de novembro de 2009

Comemoração com chapeú dos outros


O anúncio da menor taxa de desmatamento da história, feito esta semana em evento recheado de discursos que causaram aborrecimento na platéia e serviram de palanque eleitoral para a candidata de Lula, teve momentos mais curiosos. Todo o trabalho da ex-ministra Marina Silva, que à frente da pasta ambiental criou programas diretamente responsáveis pelos números anunciados ontem, foi esquecido.


Carlos Minc, que a sucedeu no Ministério do Meio Ambiente, atribuiu à Ministra Chefe da Casa Cicil Dilma Roussef a maioria dos resultados obtidos e até mesmo as metas de corte de desmatamento do Plano Nacional do clima e o Fundo Amazônia, programas que de fato surgiram na gestão da ex-ministra. Um dia após a cerimônia em Brasília, que de “tom macabro” - como Marina Silva costumava se referir aos anúncios de desmatamento – passou para alegoria eleitoreira. Elegantemente Marina Silva teceu comentários sobre as reais causas da queda no desmatamento, sobre os planos governamentais de Desmatamento Zero e sobre quem deve levar os louros pelos bons números alcançados.


Marina Silva em entrevista ao O ECO afirmou:


"Não me sinto responsável como indivíduo, mas como alguém que fez uma política pública. Foi esse nosso propósito, fazer política pública estruturante, não ficar fazendo pirotecnia. Porque quando se faz política pública estruturante, elas perduram mesmo depois que você sai. Criar 24 milhões de hectares de áreas de conservação na frente da expansão predatória é algo que fica, é área de preservação permanente ali. Criamos um sistema de monitoramento em tempo real para favorecer as fiscalizações quando as coisas estão acontecendo.


Ter tirado 700 pessoas que atuavam como quadrilha, falsificando dados, fraudando processos, é algo que ficou. É preciso cuidado ao apostar em uma ação integrada envolvendo o Exército, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal...O plano da Amazônia Sustentável, o plano da BR 16, tudo isso foi política estruturante que ficou e como política pública eu me sinto parte do processo.


E daqui para frente, vamos precisar ter cuidado com algumas questões que estão acontecendo e não podemos baixar a guarda, mesmo tendo o que comemorar com esses dados. A medida provisória da grilagem, que transferiu 75 milhões de hectares para particulares, da forma pouco cuidadosa como foi feita, sem separar o joio do trigo, é algo que preocupa.


O Brasil retoma agora o crescimento, então, se não vierem as ações de desenvolvimento sustentável, que estão ligadas ao Ministério da Agricultura, que sempre resistiu em fazer sua parte no âmbito do combate ao desmatamento, agora tem que começar fazer. O transporte, energia, todo mundo tem que entrar em cena.


Este é um risco (De dizer que o desmatamento zero é possível), ainda mais que estamos em período eleitoral. Mas a bancada ruralista mudar o Código Florestal, isso é algo que preocupa. Agora, eu não sou aquele que quanto pior melhor. Eu celebro que o desmatamento caiu pelo bem da Amazônia e foi por isso que fizemos as políticas públicas. Foi por isso que eu pedi pra sair, porque, naquele momento, com aquela loucura de que o Mangabeira (Assuntos Estratégicos) defendia uma série de idéias completamente equivocadas no meu entendimento para a Amazônia, fez com que as medidas fossem mantidas. Eu espero que o Brasil possa ir à Copenhague com metas, que o Brasil possa liderar.


A regularização de terras, da forma como está sendo feita, é preocupante. Isso não é ordenamento territorial, isso é transferência de terras. As ações do programa Amazônia Sustentável tem que entrar em ação de forma integrada, o Ministério da Agricultura tem responsabilidades. Estou ouvindo dizer que o ministro Stephanes apresentou uma pauta agora e está se dispondo a fazer coisas que há quatro, cinco anos, quando começou o plano (ele não fez). Se você pegar o plano lá, tem ações para todos os ministérios, infelizmente eles resistiram até agora. Que bom que agora vão começar, pelo menos estão dizendo que vão fazer, porque só as ações isoladas do Ministério do Meio Ambiente não dá conta, por mais que haja esforço, os outros setores têm que entrar em cena.


E obviamente concordo com o papel da Ministra Chefe da Casa Civil em anunciar os dados. Desde o início foi eu que sugeri que a Casa Civil coordenasse politicamente o plano. Sabe-se que fui eu que sugeri, eu que propus esse arranjo. Então, não importa quem foi que anunciou, o importante é que essas políticas foram pensadas cada uma, milimetricamente, por quem conhece a agenda. Foram feitos seminários técnicos científicos, eu sei cada detalhe do que aconteceu. E nos últimos anos, o ministro Carlos Minc assumiu, quando eu saí, as pessoas imaginaram que a sociedade ia aplaudir para revogar as medidas, não aplaudiu, pressionou, elas foram mantidas. Eu celebro a queda no desmatamento. Acho que a política do “quanto pior, melhor “ não é boa para ninguém, nem para a Amazônia, nem para o Brasil".


Comentário da postagem: E com isto, Marina Silva, propiciou uma didática lição de atuação politica à candidata oficial.


Fonte: O ECO e comentários da postagem.

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