terça-feira, 24 de novembro de 2009

Conflitos em Icapuí afastam o turista


A expectativa de bons ventos turísticos na alta estação que se aproxima é predominante na região litorânea do Ceará, mas em Icapuí, no Sul do Estado do Ceará, onde pousadas acumulam reservas de várias partes do País, o conflito entre pescadores e os frequentes atos de violência têm afetado a impressão de tranquilidade que caracterizam as praias icapuienses. Donos de pousadas nos bairros cujas comunidades estão em litígio temem que, se não for resolvido o conflito, perderão clientes que encontram-se assustados com a situação.


Desde o meio do ano, quando se encerrou o período do defeso da lagosta e as dezenas de comunidades retornaram ao mar, o antigo problema envolvendo pescadores artesanais e "alternativos" ganhou intensidade. A precária fiscalização do Ibama, com poucos agentes para mais de 500km de costa litorânea, tem colaborado para a arbitrariedade nas atitudes de pescadores. De um lado, os barcos "alternativos", usando marambaias e redes caçoeiras - equipamentos proibidos pelo Ibama - colhendo 12 vezes mais que as embarcações artesanais, que utilizam manzuás (permitidos por Lei).


Para proteger os espaços, os pescadores artesanais de praias, como Redonda, Peroba, Picos e Ponta Grossa, têm vigiado as áreas em que fazem a pesca, para que não sejam invadidas pelos "alternativos". Por conta própria, os pescadores da Redonda mantêm dois barcos para fazer a fiscalização. Pouco mais de uma semana, pescadores da Barrinha denunciaram que foram agredidos por outros pescadores encapuzados. O barco foi apreendido, arrastado para a praia e colocado no alto do morro, "para servir de exemplo". Como aconteceu um mês atrás assim que sucedem os conflitos em alto mar. Pescadores dos dois lados armam-se com revólveres, vigiam as entradas das comunidades e ficam esperando "pelo pior".


Nos últimos dois meses, o Batalhão de Choque da Polícia Militar esteve duas vezes na cidade, para conter o clima de guerra instalado entre as comunidades. Na última vez, terça-feira passada, 80 policiais desbloquearam a rodovia estadual que dá acesso às praias da cidade. Em setembro, uma operação maior envolveu militares, Polícia Federal e o Ministério Público, com mandatos de busca e apreensão nas localidades de Mutamba, Barrinha e Redonda.


"Isso gera um medo no turista, mesmo a gente sabendo que é um problema entre as comunidades, quem garante que não respinga em quem não tem nada a ver?", afirma Diassis Brito, morador da localidade de Mutamba, próximo à Praia da Barrinha. Ele vende água de côco na praia, sabendo que quanto menos turistas, "menos venda e menos dinheiro".
Praia da Redonda, em Icapuí. Os turistas que procuram este local querem tranquilidade, porém, no momento, os visitantes estão se afastando devido às disputas na pescaFoto: Melquíades Júnior. Fonte: Caderno Regional do Diário do Nordeste

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