sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Centro Niemeyer injeta vida a uma cidade espanhola decadente e poluída

A cidade de Avilés, principal reduto da siderurgia asturiana na segunda metade do século XX, entrou para o século XXI pelas mãos da cultura e das indústrias sustentáveis com o Centro Niemeyer como aglutinador dessa mudança.

O complexo, obra do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que nesta quarta-feira, dia 15, completou 103 anos, atua como uma ponta de lança de um projeto urbanístico mais amplo, a Ilha da Inovação.

"O Centro Niemeyer está nos ajudando extraordinariamente no projeto de transformação da cidade", afirmou à AFP Pilar Valera, a prefeita da localidade que há apenas 10 anos era conhecida na Espanha por sua decadência depois de uma intensa industrialização.

A cúpula do Centro Niemeyer, de um branco imaculado e que servirá de museu, junto a uma torre arrematada com um mirante circular, onde será localizado um centro de gastronomia e o auditório, cuja forma recorda uma lágrima, redesenharam o panorama urbano de Avilés a exemplo do que o Museu Guggenheim fez com a localidade basca de Bilbao.

"Ambos os projetos consistem em edifícios de arquitetos legendários e emblemáticos, que contribuíram para transformar um meio urbano degradado", admite o diretor do Centro Niemeyer, Natalio Grueso, embora ressalte que o Guggenheim não passa de uma "franquia internacional".

"O Centro Niemeyer quer ser um centro cultural, onde a música, o cinema, o teatro, a plástica e, em geral, todas as artes que possam se relacionar entre si", explica Grueso.

"O tema de nossa primeira exposição será a luz porque é "uma forma muito simbólica de começar nesta cidade que, há anos, era uma das mais poluídas da Europa e que agora, com este centro e com as formas brancas de Niemeyer, está trazendo uma nova luz", acrescentou.

A difícil reconversão sofrida por toda a indústria pesada do norte da Espanha também fez vítimas em Avilés, onde seus 83.000 habitantes perderam praticamente 80% de seus empregos em uma década.

Talvez tenha isso que fez muitos habitantes, no início, ficassem céticos à ideia de um centro cultural como forma de renovar a cidade.

"Suas formas são raras, mas não fica mal. É preciso esperar que fique todo acabado", comenta Laura Hernández, estudante de 20 anos.

O centro também inspirou novos produtos, como um confeiteiro da cidade, que criou o "niemeyita", um doce de amêndoa que recorda a cúpula. Uma loja de roupas também ofereceu descontos no dia da abertura da Cúpula Niemeyer.

"Há 15 anos provavelmente as pessoas diriam: não, Avilés não tem futuro turístico porque é uma cidade decadente e poluída. Isso tudo mudou", diz ainda Valera, que atribuiu muito deste crédito ao projeto Niemeyer, financiado 60% com capital privado e 40% público, com um orçamento inicial de 4 milhões de euros.

"Em um fim de semana de portas abertas no verão passado, passaram por aqui 12.000 pessoas para vê-lo em obras. Quando for inaugurado, a resposta deverá ser espetacular", sentenciou a prefeita.

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