quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A nossa 25 de Março


Lonas cheias de mercadoria sobre os paralelepípedos tombados da rua José Avelino são proibidas. Mas, durante as feiras de atacado das segundas às quintas-feiras, a prática voltou a ocorrer.

O ambulante Luciano Gomes, 33, chegou à rua José Avelino às 13 horas de sábado porque precisava “marcar o canto” onde venderia as mercadorias importadas desde as primeiras horas de domingo até as 9 horas de ontem. Para não perder o ponto onde instalou um mostrador cheio de bermudas coloridas e carteiras de dinheiro brilhosas, revezou o plantão com a esposa, Ana Girão, 38. Tudo pelo lucro dobrado do Natal.


Luciano calcula em R$ 500 o arrecadado da maratona - duas vezes o valor embolsado em fins de semana corriqueiros. “Teve feira que já chegou a dar R$ 800 (neste dezembro). É muita gente, não consegue nem se mexer direito”, testemunha o ambulante. Para os donos dos boxes dentro dos galpões, o “não conseguir se mexer direito” é culpa dos próprios ambulantes que, há cerca de dois meses, voltaram a instalar os stands improvisados de mercadoria na pista da José Avelino.


Conforme levantamento realizado pela Secretaria Extraordinária do Centro de Fortaleza (Sercefor) às segundas e quintas-feiras, cerca de 70 ônibus interestaduais chegam ao Centro apinhados de consumidores para essa feira. A secretária da pasta, Luiza Perdigão, estima o dobro de veículos em dezembro. Tanto cliente aumenta o frisson dos comerciantes e espalha lonas ao longo da José Avelino, obstruindo a passagem dos pedestres.


“O sacoleiro não tem liberdade pra transitar”, reclama o fabricante de confecção feminina Mauro Costa, 48. Instalado num dos galpões da Avelino há dois anos, Mauro paga R$ 200 mensais pelo espaço e de domingo para segunda-feira, vende cerca de 4 mil shorts de cotton a R$ 5,50 cada. “Mas em dezembro tem o décimo terceiro dos funcionários da fábrica”, lembra Mauro.


Clientes


As turistas cariocas Tereza Becker e Leonor Cavalcante tomaram susto quando desceram do táxi no cruzamento das ruas Conde D’eu e José Avelino. Pediram ao motorista um destino de compras popular, mas não imaginavam tanta sujeira. “Muito desorganizado e sujo. É pra ser sincera, né?”, confessou a funcionária pública Tereza. Quando conversaram com a reportagem, as amigas se encaminhavam ao Mercado Central, na esperança de que fosse mais apresentável.


Uma das muitas sacoleiras transitando pela rua, Antônia Alves já parecia mais à vontade. Há 27 anos, deixou “de trabalhar em firma” e passou a vender nos bairros de Uruburetama, interior onde mora (a 120 quilômetros de Fortaleza), tudo o que compra em Fortaleza. “Não tenho vendedor certo. Saio pesquisando. Aqui na rua é bom porque é mais barato do que no galpão, mas às vezes também compensa (comprar no box)”, narra a sacoleira.


ENTENDA A NOTÍCIA


A feira da José Avelino começa nas primeiras horas do domingo e só dá folga aos fiscais perto do meio-dia de segunda. Nenhum outro aglomerado de comerciantes na cidade tem um plantão de tantas horas. Ordenamento urbano do Centro é o mais sacrificado


SAIBA MAIS


A ocupação comercial dos arredores da rua José Avelino se intensificou desde a extinção da antiga Feira da Sé, quando os ambulantes foram relocados para galpões no Centro e em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza


Quem não foi beneficiado com um ponto perto da Praça da Sé acabou retornando e fazendo mais volume na faixa da rua Conde D’eu entre a Catedral Metropolitana de Fortaleza e a rua José Avelino.


FISCALIZAÇÃO


Os fiscais do município tentam coibir as vendas ao longo da rua Conde D’eu, a fim de não prejudicar o tráfego tanto de carros quanto de pedestres. Também é proibido colocar mercadoria nas grades da Igreja da Sé e do Mercado Central. Todas as manhãs de segunda e quinta-feira, mesmo com a fiscalização, os ambulantes ocupam calçada e pista da Conde D’eu. “Não podemos nem colocar a mercadoria no chão porque o rapa leva embora”, reclama o artesão César Alves, 42.


Fonte: Reportagem Janaína Brás/ O POVO Online

Nenhum comentário: