As novas cidades precisam equilibrar crescimento com qualidade de vida, verde, mobilidade e bem-estar
Do mito da cidade ideal e sociedade perfeita - ideais perseguidos desde Platão, passando pelas utopias urbanas da era moderna até chegar às cidades globais. Assim pode ser contada a história da cidade, que surge com a civilização, como espaço marcado pelo encontro e trocas materiais e simbólicas.
Entre utopia e realidade, as cidades sempre constituíram espaços das diferenças. Surgidas, inicialmente, para proteger e demarcar espaços, hoje, se espalham em aglomerados urbanos cada vez mais densos, violentos e sem qualidade de vida.
Depois de ver proposto até mesmo o seu fim, a cidade teima em continuar sobrevivendo e desafiando planos urbanísticos e tentativas de ordenação, principalmente quando se vê concretizada a profecia da tendência à urbanização da população do Planeta. Os anos 1990 trouxeram um ingrediente a mais na já conturbada história da cidade: a sustentabilidade.
Como dar um freio a essas metrópoles e megalópoles que se esparramam mundo afora de forma desordenada? Com a palavra o professor da Universidade de São Paulo (USP), Ladislau Dowbor, que prefere trazer o assunto para o contexto brasileiro. "De forma geral as cidades no Brasil não são planejadas. O que não quer dizer que não sejam orientadas de certa forma, mas que a orientação obedece a interesses de incorporadoras, imobiliárias, empreiteiras, montadoras de automóveis - empresas que financiam pesadamente as campanhas eleitorais, e fazem aprovar as obras que lhes interessa, com sobrefaturamento que assegura a eleição seguinte", critica.
O resultado são núcleos nobres, com muito asfalto e infraestruturas, enquanto o grosso da população está em condições escandalosas. "A cidade desigual gera outras deformações, como os preços exorbitantes do solo em regiões nobres, o que força os pobres a morarem em regiões distantes e consolida a divisão espacial entre pobres e ricos, centro e periferia".
Debate
Ladislau Dowbor ministra palestra sobre "Cidades Sustentáveis", nesta sexta-feira, às 18 horas, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará (Adufc). Ele fala sobre aspectos sociais e econômicos que estão incluídos no conceito de cidades sustentáveis, e admite: "Uma cidade é um adensamento muito grande de pessoas, vivendo em espaços reduzidos. Não organizar o convívio é ruim para todos".
"Para as empreiteiras, interessam grandes obras, viadutos, canalizações, mas não um parque, um espaço de lazer", argumenta. "Inaugurar obras grandiosas rende votos, mas o sistema de saneamento básico, e em particular o sistema de esgotos, não se inaugura com tanta pompa", completa.
Luxo e atraso
O resultado é o convívio de luxo e atraso. Cita o exemplo de São Paulo, que ostenta uma ponte vistosa sobre o Rio Pinheiros, que não permite passagem de pedestres ou ciclistas, por se tratar de região nobre. Mas, nos apartamentos frente ao rio, vendidos a R$14 milhões, é preciso ter janelas fechadas e o ar-condicionado sempre ligado, pois o rio é um esgoto malcheiroso.
Outro elemento importante é a garantia da coleta seletiva dos resíduos sólidos: "Eu reciclo na minha casa, faço compostagem, separo tudo o que pode ser reutilizado em embalagem separada, os catadores agradecem, não precisam abrir sacos de lixo para procurar latinhas". Mas enquanto a cidade não organizar um sistema efetivo de reciclagem, reutilização, diferenciação de destino final e assim por diante, eu me sinto um pouco como metido a verde".
Muitas cidades são cobertas de painéis solares de aquecimento de água. "Eco economiza-se radicalmente na conta da eletricidade". A água captada dos telhados por sua vez alimenta a horta, lava o carro.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
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