sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Artigo de Leonardo Furtado Sampaio

Conheci a casa da escritora Raquel de Queiroz, na Cidade de Fortaleza, em 1966, era o Sítio Pici do Dr. Daniel de Queiroz pai da escritora, era lá que como adolescente continuava minha vida rural caçando, pescando e comendo frutas.

No final dos anos 70, foi feito o loteamento do Sítio Pici e a Imobiliária sensível ao patrimônio cultural da Cidade, deixou intacta aquela casa, porque foi lá onde a escritora Raquel de Queiroz iniciou os inscritos do Livro O Quinze.

Em 1983, as Comunidades Eclesiais de Base – CBEs, do Pici, na Paróquia do Henrique Jorge, levaram ao conhecimento do Prefeito César Cals Neto através de documento, solicitando o tombamento da Casa e a construção de equipamentos culturais e esportivos nas áreas públicas e espaços vazios disponíveis ao redor da casa, que incluía a área institucional do loteamento.

Os anos passaram sem resposta e em 1986, novamente retomamos a discussão com a Administração Popular, da então Prefeita Maria Luiza Fontinele e essa em 1987, fez um decreto de desapropriação da Casa. No entanto lembro quando chegou às minhas mãos um ofício do Loiola, Superintendente da SUMOV, falando sobre o valor da desapropriação e solicitando que fizéssemos pleito junto à Prefeita sobre aqueles valores para a prefeitura pudesse efetivar o projeto de intervenção na área. As dificuldade eram tantas naquela gestão que o mandato terminou e o pagamento da indenização não foi efetivado, nem a gestão seguinte de Ciro Gomes prosperou na realização do projeto.

Em 1994, através da Associação de Organizadores Sociais e Serviços – AMORA levou o projeto para a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará – SECUT no mandato do Paulo Linhares e do Gov. Tasso Jereissate solicitando o tombamento da Casa Raquel de Queiroz, para ser usada como Biblioteca Pública, formação cultural e no entorno a construção do Pólo Cultural Raquel de Queiroz. A SECUT na época encaminhou uma equipe técnica do Patrimônio Histórico do Ceará, para analisar a possibilidade de tombamento e os técnicos avaliaram que devido algumas alterações na arquitetura original do prédio, não caberia mais tombamento e sim desapropriação por parte da Prefeitura.

Diante dessa orientação dada apenas oralmente pelos técnicos do Patrimônio Histórico do Ceará, em 1995, a Associação de Organizadores Sociais e Serviços – AMORA respaldada pelo Espaço cultural Frei Tito de Alencar – ESCUTA, Grupo Cultural Jovens Unidos do João Arruda, Grupo Cultural Chico Mendes e os movimentos sociais da área, continuaram a luta e reformularam nova idéia para o projeto, que seria a construção do PÓLO CULTURAL RAQUEL DE QUEIROZ em toda a extensão do Riacho Cachoeirinha, desde o João XXIII, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Pici, Autran Nunes e Antônio Bezerra até o Rio Maranguapinho.

Desta vez, o pleito foi entregue à Prefeitura de Fortaleza, no mandato do Dr. Juraci Magalhães, que através do Secretário da Regional III, Dr. Petrônio, que convocou a AMORA para ir in loco conhecer a área solicitada para intervenção desse projeto, e logo marcou a data da visita. A comissão foi formada pelo Presidente da AMORA Antônio Carlos Nascimento, Leonardo Sampaio, o arquiteto José Sales e Dr. Petrônio que circularam toda a área, desde a Av. Parcifal Barroso, Campus do Pici-UFC, o Riacho Alagadiço, a Casa da Raquel de Queiroz, o Riacho Cachoeirinha, onde chegaram até o encontro dos dois Riachos entre Antônio Bezerra e Autran Nunes.

Na ocasião bem em cima da ponte de madeira entre o Bairro D. Lustosa e Antônio Bezerra, o arquiteto José Sales afirmava que estava elaborando o projeto Parque Ecológico no Riacho Alagadiço que vinha desde o Açude João Lopes até a Av. Perimetral entre a UFC - Campus do Pici e a Fábrica Cione no Antônio Bezerra. Nesse momento o Secretário Dr. Petrônio solicitou que o projeto fosse estendido para todo o percurso visitado, incluindo o Riacho Cachoeirinha e a Casa da Raquel de Queiroz.

Após essa visita o Arquiteto José Sales ampliou o projeto e deu o nome de Parque Raquel de Queiroz, absorvendo as idéias que a AMORA, juntamente com os movimentos culturais dos bairros que envolve toda aquela extensão haviam discutido e documentado, na Regional III, que incluía além dos espaços verdes, áreas para o esporte, lazer e cultura beneficiando diretamente os bairros Henrique Jorge, Jóquei Clube, Pici, Antônio Bezerra, D. Lustosa, Autran Nunes, Presidente Kennedy, Alagadiço, Monte Castelo e adjacência. Mais o projeto gorou na Prefeitura.

Em 2005, com o chamado da Administração Fortaleza Bela, da Prefeita Luiziane Lins, para levarmos nossas propostas ao Orçamento Participativo (OP) e o Plano Diretor fomos lá, reanimar a idéia do projeto do POLO CULTURAL RAQUEL DE QUEIROZ e a proposta ficou entre as mais votadas no (OP) de Fortaleza, naquela plenária da SER III. Porém em 2005, o projeto não entrou no orçamento enviado pela Prefeita, à Câmara de Vereadores para 2006, ainda tentamos intervir via o Vereador José Maria Pontes, mas a proposta não vingou.

Em 2006, na Assembléia do OP no Centro de Cidadania da Bela Vista, retomamos a proposta com mais detalhes, delimitando o início da obra do projeto em terreno da Prefeitura, localizado na Rua Mons. Hipólito Brasil, entre a Av. Prof. Heribaldo Consta e Rua Antônio Ivo, incluindo a Casa onde a escritora morou. Posteriormente, a AMORA e o Espaço Cultural Frei Tito de Alencar - ESCUTA formularam através de protocolo na SER III, documento delimitando os espaços e especificando os equipamentos que deveriam constar no projeto, que implica em: uma Biblioteca Pública na Casa Raquel de Queiroz e no entorno a construção de Anfiteatro, Quadras de Esporte, Cinema, Box para artesanato, Salão para exposições de artes, Auditório e um Quadrilhódomo (para realização de festivais de quadrilhas juninas da Cidade), podendo ser adaptado para outros eventos culturais em períodos além do junino.

Para tristeza nossa, em 2006 a área do terreno público que fica no entorno da Casa, foi construído por particulares nove lojas com duplex para alugar e ainda aterrando as margens do Riacho Cachoeirinha, exatamente onde era o Açude do Sítio Pici, lugar onde ela se inspirava para escrever a obra sobre a seca.

A comunicação à SER III foi feita, na escavação do primeiro alicerce, mas a postura dessa administração não diferenciou das demais, tratou-se com desprezo, esse patrimônio histórico, que poderia ser um ambiente de atração turística e de embelezamento da Cidade, além de proporcionar qualidade de vida a seus habitantes, já que se trata de uma grande intervenção urbanística, principalmente quando se trata de uma periferia onde tem a maior densidade populacional do município que vive sufocada sem espaço para manifestar suas potencialidades esportivas, culturais e de lazer.

Em 2007, essa história toma novo impulso quando as comunidades do entorno do Riacho Alagadiço identificam o projeto Parque Raquel de Queiroz e partem pra cima na perspectiva da sua execução. Tomam iniciativas coletivas, chamam todos os setores envolvidos e começam a realizar manifestações. Retomam a discussão dos Orçamentos Participativos, cobram diretamente da Prefeitura e essa diz que mais uma vez, o projeto não está no orçamento de 2008. Os moradores reagem, celebram, vão às ruas, se reúnem e exigem dos poderes públicos ações imediatas de intervenção nos espaços vazios que já são públicos e está a disposição da Prefeitura para construir o que é de direito da população. Para alegria nossa essa mobilização toda, criou no dia 20 de outubro de 2007, o Movimento Pró Parque Raquel de Queiroz.

Essa é uma história de antes e de agora um pouco de sistematização da memória da beleza dessa luta, pelo embelezamento dos nossos bairros da "Fortaleza Bela". É uma luta que nunca será abandonada por seus moradores, mesmo desprezada por seus administradores.

A nossa bandeira em 2007, deverá ser de exigir que a Prefeita, os Senadores, Deputados e Vereadores negociem com o governo Lula colocando nas prioridades de recursos, a inclusa no PAC para esta obra em 2008.

Leonardo Sampaio
leonardosampaio5@yahoo.com.br

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