O Fórum Social Mundial terminou da melhor maneira possível. Tudo muito equatorial, integrado à mata, e nenhuma deliberação. Veja que espetáculo: os organizadores do encontro decidiram por não concluir coisa alguma depois de centenas de Tendas Temáticas que trataram de mais de dois mil assuntos. Nenhuma palavra formal nem sobre as alternativas à crise financeira global, ainda que o tom de todas as reuniões, celebrações e plenárias fosse o de que do lamaçal do Acampamento da Juventude em Belém surgiria a era do pós-neoliberalismo.
Bravateiro, o pessoal entre instrutivas palestras, lançou um No Pasaran! aos abutres capitalistas, enquanto os quatro patetas – Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo – decretaram o próprio fim da economia de mercado e a exatidão histórica dos princípios fundamentais do socialismo bolivariano. O presidente Lula deve agradecer muito ao João Pedro Stédile por não tê-lo convidado para o encontro dos “líderes latino-americanos” no Fórum paralelo do MST. Foi poupado de participar de Karaokê coletivo em homenagem a Che Guevara.
O presidente não precisava mesmo fazer muito discurso para agradar o eleitorado revolucionário dos cinco continentes, pois entrou com o principal e literalmente, com a participação minoritária de Chávez, comprou o Fórum. Nestes tempos de crise, investiu algo próximo de R$ 85 milhões para que os mais de cem mil participantes protestassem de forma sustentável sob a orientação de ONGs já regiamente abastecidas com recursos do Orçamento da União. O pouco que o presidente falou foi o suficiente para granjear simpatia ao bombardear o Consenso de Washington.
Um despautério agradável para ninar os festivos participantes. O presidente pode até não gostar da Lei de Responsabilidade Fiscal, entender que é possível administrar em desrespeito à qualidade de gestão e imaginar que o normal é o Estado ser um gastador desbragado. Agora teve que admitir, até por ser o patrono do encontro, que o Brasil deve a prosperidade dos últimos anos ao pouco do que se praticou de boa-governança. Se não tivéssemos seguido o que determinou o FMI certamente não teríamos nos livrado sequer da inflação e poderíamos estar entre os bolivarianos, com a democracia comprometida.
Se há fórmula válida para administrar a crise ela está contida em tudo o que o Presidente Lula condena: ajuste fiscal, contenção de gasto e gestão de resultados. Isso vale para administradores e administrados. Empresas e trabalhadores. O presidente sabe tudo de marola e por isso deve ser interpretado literalmente ao contrário durante a crise. Se ele recomenda gastar, é hora de apertar mais o cinto. Se ele disser que você deve comprar uma geladeira, nem passe na porta da loja. O capitalismo não acabou como querem os quatro patetas, apenas passará a ser praticado com mais responsabilidade, coisa que o lulismo tem verdadeiro asco. Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
Deu no Blog do Noblat http://oglobo.globo.com/pais/noblat/. Reprodução unicamente para divulgação. Direitos autorais preservados.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
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