A praia do Titanzinho é uma pequena bacia artificial. Fica entre a praia Mansa, formada depois da construção do espigão do Porto do Mucuripe, que avança 1,9 quilômetro no mar, e outro espigão, esse de 900 metros, que faz limite com a Praia do Futuro. Nesse pedaço da orla será construído o Estaleiro Ceará, preparado para produzir navios gaseiros e de cargas em geral. O primeiro orçamento anunciado tem contrapartida de R$ 60 milhões do Governo do Estado aplicados em infraestrutura. As obras incluem aterro e dragagem. Sem o projeto técnico fechado, ainda não dá para precisar o impacto ambiental, mas é certo que o estaleiro vai alterar, mais uma vez, a dinâmica do litoral cearense.
“As intervenções naquela área são muito complexas, cumulativas e tendem a incrementar o processo erosivo. Interfere no transporte de sedimentos e na direção e força das ondas. Será que vai modificar a entrada do vento na cidade? Vai alterar a qualidade da água?”, questiona Jeovah Meireles, professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para o diretor do Labomar - Instituto de Ciências do Mar, Luis Parente, “em termos de custo-benefício”, o local é apropriado. Já está protegido por dois espigões e tem boa profundidade. “O calado tem 13, 15 metros. Bastaria dobrar o espigão em L para aumentar a zona de abrigo”, diz.
O projeto técnico deve ser fechado até outubro pelas empresas PJMR, também sócia do Estaleiro Atlântico Sul, no Porto de Suape, e pela SKG, segunda maior fabricante de navios do mundo. De certo, por enquanto, apenas o local escolhido. “É exatamente o mesmo da antiga proposta de ampliação do Porto do Mucuripe, projeto que chegou a ter a licença ambiental aprovada na época”, lembra o presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Antonio Balhmann. De acordo com Balhmann, o próximo passo é conseguir as licenças ambientais. Em outubro, o estaleiro participa de sua primeira licitação, mesmo antes de ser construído.
“É preciso cautela. Estudar os efeitos do estaleiro somados aos do próprio porto, ver o impacto social”, pondera o ambientalista Arnaldo Fernandes. Para Luis Parente, diretor do Labomar, o problema da construção do estaleiro é mais social que ambiental. Muita gente mora na praia do Titanzinho. O espigão é cais para os pescadores artesanais do Serviluz. A praia é berço da maioria dos surfistas de elite da cidade. Um reduto de ondas, lazer e autoestima da população. “Pessoas serão removidas, mudar o estilo de vida é complicado. Sei que o estaleiro contrata muito, mas não sei se a mão-de-obra vai sair de lá”, diz Luis.
Matéria de Mariana Toniatti para O POVO.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
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