segunda-feira, 27 de julho de 2009

A pátria das grandes caminhadas

Quem planeja fazer uma trilha de longa distância – aquelas em que você passa dias caminhando pela mata - logo pensa em visitar parques nacionais nestes países. Mas há uma outra opção que pode parecer surpreendente aos aventureiros mais experimentados: a Grã-Bretanha. É verdade. A pequena ilha européia, lembrada mais pelos agitos de Londres ou pelo uísque escocês, guarda uma imensidão de belas paisagens. Com milhares de quilômetros de trilhas públicas, é possível conhecer a pé as regiões montanhosas do norte ou os pitorescos penhascos da costa do Atlântico, entre outras paragens.

A Grã Bretanha - Inglaterra, Escócia e País de Gales - como nenhuma outra região no mundo, consolidou ao longo do século 20 uma rede de trilhas públicas que não estão confinadas a áreas protegidas, como parques nacionais e outras reservas ecológicas. Os caminhos passam por dentro de fazendas, ranchos, casas de veraneio e quaisquer outros tipos de propriedades privadas. Isso permitiu, por exemplo, que o governo britânico criasse, desde 1965, quinze trilhas oficiais que, juntas, somam quatro mil quilômetros.

Isso sem contar as muitas outras, administradas por governos regionais e locais.Juntos, os três países têm 230 mil quilômetros quadrados, tamanho semelhante ao do estado de Rondônia.“O que torna o lugar diferente para se caminhar é que aqui as trilhas passam por terras privadas, enquanto em outros países da Europa ou nos Estados Unidos, você só pode caminhar se estiver dentro de um parque nacional”, ressalta David Else, inglês autor de guias de viagens, como o Lonely Planet Walking in Britain.

Tão interessante quanto caminhar pelo interior britânico, lembra Else, é saber a história que existe por trás desse emaranhado de trilhas. A maioria delas percorre antigas rotas usadas pelos habitantes da ilha desde tempos imemoriais. Mas a partir do século 19, a Revolução Industrial alterou completamente a estrutura fundiária do país. A migração da população rural para grandes cidades como Londres e Manchester abriu espaço para a formação de novas e gigantescas propriedades dos endinheirados da indústria e, com isso, muitas das trilhas antigas foram fechadas.

Foi a mesma Revolução Industrial, no entanto, que deu origem à nostalgia da natureza. O inchaço das cidades fez com que surgissem grupos que apreciavam dias de folga no campo. Em seus momentos de lazer, recorriam exatamente aos antigos caminhos, próximos a bosques e lagos. “Isso não agradava à aristocracia, que usava estes mesmos lugares para caçar ”, conta Else. A disputa se tornou séria na década de 1930, quando ocorreram confrontos físicos. A partir daquele momento, andarilhos lançaram um movimento para que o Parlamento britânico reconhecesse seu direito de caminhar livremente pela natureza. E a empreitada deu certo.

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