sábado, 16 de janeiro de 2010

Palmilhando: Pedro da Cunha e Menezes


Terminei esses dias uma caminhada pela costa de Portugal, da Foz do Tejo ao Estuário do Sado, ao longo da Península de Setúbal. Foram 180 quilômetros (112 sem computar repetições), percorridos em 41 horas ao longo de 16 dias. O trajeto, que se encontra sinalizado em alguns trechos, é parte da E-9, trilha de cinco mil quilômetros projetada para acompanhar o litoral europeu desde o sul português até o norte da Estônia (Vide minha coluna Cortando Portugal em Postas, publicada aqui em O Eco em 3 de novembro de 2008).


Foi puro prazer. Apesar de estar no quintal de Lisboa, na maioria dos dias gozei de privacidade quase absoluta e pude apreciar paisagens deslumbrantes. Caminhei sob sobreiros, salgueiros, pinhais mansos e bravos. Pisei grandes trechos de dunas litorâneas cobertas de vegetação rasteira. Senti na pele a& secura do verão, estação em que também me deleitei com um crepúsculo que dura mais de hora e meia. Para alguém nascido e criado nos trópicos como eu, trata-se de um prazer difícil de explicar a quem não conhece como é bom ter acesso às luzes e cores mágicas de um fim de tarde que parece não querer terminar nunca. Me encantei com as mil flores da primavera mediterrânea, me esbaldei nas águas geladas do Atlântico e da Lagoa da Albufeira. Em trechos sem sinalização alguma, naveguei em busca do caminho certo, tiritando no ar gelado do inverno ibérico. Viajei no tempo ao cruzar com quixotescos moinhos de vento, ruínas centenárias, igrejas medievais e castelos milenares. Me empanturrei dos frutos silvestres que pejavam os medronheiros no outono. Perambulei em meio aos bem arrumados corredores de parreiras em flor. Admirei o vôo das gaivotas e as corridas furtivas das raposas da Serra do Risco. Me encantei com as falésias do Parque Natural da Arrábida que, por isso mesmo, é candidata a Patrimônio Mundial da Humanidade.


Por fim pasmei com o Tejo. Dobrei a foz do rio em um fim de tarde ilumidado. Como é belo! E, no entanto, hoje poucos lisboetas conhecem esse ângulo de sua terra, cuja visão só é posssível a bordo de um barco ou no leito de uma trilha. Naquele momento entendi o real significado da palavra saudade para os navegantes portugueses que partiam de sua terra em viagem de descoberta do Novo Mundo, nos séculos XV e XVI.


Fonte: Texto e Fotografia da Praia de Albufeira de Pedro da Cunha e Menezes em O ECO http://www.oeco.com.br/blog-palmilhando
Comentário da postagem: Em Outubro/ 2006 foi aprovada a proposta de consolidação do GEOPARK ARARIPE na 2a Conferencia Global do Geoaprks, em Belfast, na Irlanda, por conta do que temos de mais impressivo na Chapada do Araripe: patrimonio geológico e paleontologico e, paisagem. 3 anos passados e na foi consolidado: Não existe um único roteiro de visitação organizada, nenhuma trilha demarcada, nenhum apoio aos visitantes. E toda vez que se toca neste assunto é um trauma, com acusações mil parte a parte.

Postado por José Sales

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