quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ainda sobre o Plano Diretor

Quando imaginavamos que um certo bom senso estava em vias de ser instalado na Camara Municipal, com a retirada do anteprojeto do Plano Diretor Municipal, da pauta de votações, pelo próprio relator da mensagem, Verador Salmito Filho, para verificação quanto a sua adequabilidade e suficiencia, quanto a um dos seus aspectos mais polemicos, que trata do exagero da convalidação de uma verdadeira malha de ZEIS, de todas as tipologias e qualificações, no Município de Fortaleza, ao arrepio do que recomenda o próprio Estatuto da Cidade, quanto a utilização deste instrumento de refoma urbana; eis que o mesmo relator anuncia um "acordo" que urgencia uma 1ª discussão das mais 300 emendas, hoje e uma 2ª discussão na próxima 2ª feira e no mesmo dia, a redação final.

Como se tudo não pudesse ser resolvido com um "acertozinho" necessário entre as partes interessadas citadas, dos ditos autodenominados "movimentos sociais" e o setor empresarial ligado à construção civil. Permaneceremos sob a ameaça da discriminação de quase cem enclaves urbanos, denominados pelos "neo estudiosos" de ZEIS, umas para resolver os reais problemas existentes e outros para regulamentar uma nova forma de ocupação espontânea especulativa e constrangimento do próprio desenvolvimento urbano de partes de nossa cidade, como se a complexidade da dinamica de uma cidade da dimensão de Fortaleza pudesse ser reduzida a esta dicotomia de interesses destes dois grupos - reserva de situações para habitação social versus construção civil - como o único foco do interesse maior de toda a cidade. Propositalmente omitindo que todos os outros aspectos de conteúdo relevante que estão sendo colocados de lado, como:

  • a requalificação da Área Central, como um dos nossos maiores ativos urbanos;
  • a preservação do meio ambiente, dos espaços públicos e da paisagem, com destaque para a Bacia do Cocó e nossa extensa orla marítima de 30 quilometros, em rotina de predação acelerada, dois outros ativos urbanos relevantes;
  • as oportunidades de realização de operações urbanas consorciadas, reais possibilidade de dinamização urbana através de parcerias público - privadas, hoje normativas adotadas por todas as maiores cidades brasileiras e regiões metropolitanas;
  • a consolidação de um sistema de transporte público verdadeiramente integrado em todas suas interfaces e modos com resolutividade dos problemas de acessibilidade, circulação e mobilidade que tem se apresentado a cada dia mais graves.

A miopia dos propositores desta "solução ZEIS" os impede de perceber que com isto agravaremos ainda mais o fosso social entre partes da cidades. Passaremos a ter registradamente áreas qualificadas e áreas estigmatizadas unicamente para instalação de habitação social. E que estas "novas áreas" convalidarão extensos "ghettos" em localizações onde os mesmos hoje não existem, como:

  • no corredor de atividades da Av. Santos Dumont entre a Av. Santana Junior e as instalações da FANOR;
  • como na própria Beira Mar, junto a foz do Riacho Maceió, para onde se propõe uma operação urbana, com o aval do próprio Executivo Municipal;
  • para todo o contexto da Praia de Iracema, que deveria ser requalificado; para notáveis situações da área central, como a calha do Pajeú, Palácio do Bispo e Bosque Municipal, que hoje estão em processo de revigoramento, também por ação municipal;
  • para o entorno do Centro Dragão do Mar, hoje em transformação no nosso "distrito cultural";
  • para o próprio contexto do Joquei Clube e Avenidas Carneiro de Mendonça e Limeu Machado, onde se implanta o Hospital da Mulher, como resultado de uma outra operação urbana, que se transformaram em "áreas reservadas" para expansão do Planalto PICI, resultantes de sucessivas invasões deste Campus da UFC.

Cordialmente

Um comentário:

David disse...
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