terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Plano sem cidade

Um dos principais arquitetos da cidade, Francisco Nasser Hissa, é da Academia e do mercado. Autor de dezenas de projetos e também construtor, ao lado do irmão José Hissa, ele também é professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC. Hissa faz uma provocação em plena polêmica sobre o Plano Diretor de Fortaleza. "O que é uma cidade? Um aglomerado de prédios e pessoas, uma organização viva, uma máquina de convivência, ou alguma das demais definições a que estamos acostumados a ouvir?", pergunta. No dizer dele, essa inquietação, até hoje ainda não resolvida, já existia ao tempo de Aristótoles, quando na Política, indagava qual a essência desse objeto complexo, a que todos chamamos de cidade.

"Como objeto complexo, a cidade pode ser vista sob diversas dimensões: a ambiental, a política, a econômica, e tantas outras mais. Porém, dentre todas, a que tem a capacidade de síntese das demais, é a dimensão arquitetônica, já que a relação do homem com o ambiente é primeiramente espacial, apesar de não exclusivamente". Hissa adverte: "Espera-se que um plano de cidade, portanto, esmere-se por orientar essa dimensão, a arquitetônica, de forma bastante segura". Com relação ao que se propõe apresentar como plano diretor da cidade de Fortaleza, ressalta a preocupação com que algumas das dimensões pertinentes às cidades, foram analisadas. Hissa vê com clareza no plano, a intenção de preservar o ambiente natural e o acervo histórico-cultural, a dimensão legal da função social da propriedade, a otimização da rede de infra-estrutura existente, dentre outras não menos nobres. Contudo, ele afirma que muito, ou quase totalmente fica a desejar, o que se poderia esperar de propostas verdadeiramente arquitetônicas em um plano diretor.

Para Hissa, como proposta arquitetônica, por exemplo, era de se esperar que fosse orientação do plano, qual a relação que se pretende em Fortaleza, especificamente, entre as alturas dos edifícios e as diversas larguras das nossas ruas; qual a relação entre essas mesmas massas edificadas e a orientação da nossa malha urbana (em sua quase totalidade ortogonal); qual a relação a ser seguida na futura lei de uso e ocupação, entre os afastamentos dos prédios a serem construídos e o parcelamento do solo existente, bastante diferenciado nos diversos bairros da cidade; qual a densidade mínima de pessoas, de modo a permitir a diversidade de usos necessária para viabilizar a cidade; enfim, os mais variados tipos de relações espaciais determinantes para o conceito de lugar. "Um plano sem arquitetura, por conseguinte um plano sem lugar. Então um plano sem cidade... Melhor seria uma cidade sem plano".

Coluna VERTICAL S/A, do Jornalista Jocélio Leal, Jornal O POVO, de 16/12/ 2008

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