Com a questão do Plano Diretor colocada em novos trilhos, Fortaleza caminha para se organizar melhor. É preciso criar a consciência de que a Cidade é destinada, antes de tudo, aos seus habitantes - aos que moram permanentemente nela. Na medida em que atende às justas aspirações humanas dos que a habitam, oferecendo-lhes uma qualidade de vida respeitável, torna-se automaticamente atraente para os visitantes, pois os turistas abominam uma cidade incivilizada.
Quando se tem um espaço urbano disciplinado, onde o interesse público é acatado, estabelece-se uma cultura de convivência sadia, nas quais as pessoas se respeitam, introjetando a convicção de que o direito do outro é uma garantia para o meu próprio direito. Assim, será possível extirpar paulatinamente uma cultura incivilizada, cuja lógica é o individualismo predatório e obtuso, baseado no raciocínio de que tudo me deve ser assegurado, mesmo em detrimento dos direitos dos demais.
Isso é o que explica, em grande parte, a ocupação ilegal dos espaços públicos, sobretudo, a invasão das calçadas e das praças pelo interesse particular; a utilização do som alto por veículos incrementados; o barulho invasivo de bares e restaurantes flagrantemente desprovidos de acondicionamento acústico. Este último ponto - a forma como se maneja o som - é hoje um dos indicativos mais precisos para se avaliar o grau de civilização de uma dada sociedade.
O descuido em relação a isso faz de Fortaleza uma das cidades mais incivilizadas do planeta. Ora, para uma urbe que pretende se consagrar como um importante referencial turístico, essa tolerância em relação à violação de um dos itens mais agrados da privacidade – o direito de não ser agredido por som alto e de poder desfrutar de sossego e repouso no recesso do lar – é uma incongruência desconcertante, para não dizer uma burrice estúpida.
A legislatura municipal que agora finda, infelizmente, não tomou essa questão a peito: é preciso que os mandatários do próximo quadriênio municipal tragam pelo menos isso na cabeça, quando inaugurarem o novo período de trabalhos na Câmara Municipal. Aliás, é preciso que as entidades da sociedade civil se articulem para conseguir, não só uma altitude mais sintonizada dos vereadores com seus eleitores, nesse aspecto, mas também uma mobilização da sociedade para pressionar a bancada federal do Ceará a apresentar uma emenda constitucional que corrija as falhas clamorosas da Lei do Silêncio, que nos dão a fama de bárbaros. E de tal forma isso nos transforma em uma “terra de ninguém”, que há imigrantes, proprietários de bares e restaurantes, fazendo aqui o que jamais fariam em seus países de origem.
Temos que proteger nossa Fortaleza dos bárbaros locais e de fora. Infelizmente, as instâncias públicas responsáveis parecem indiferentes ao clamor, aos sentimentos e aos direitos da população de Fortaleza.
OPINIÃO do Jornal O POVO, da data de hoje, 30 de Dezembro de 2008. Rperoduzida unicamente para divulgação. Direitos autorais preservados.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário