Quase ninguém percebeu, mas o Brasil passou a ter desde segunda-feira (1 de dezembro) um Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas, que lista meia dúzia de ações desconexas para enfrentar o mais importante fenômeno da contemporaneidade em nível mundial. Seu lançamento foi estimado para ajudar a diplomacia brasileira a não fazer feio em Poznan, na Polônia, onde se realiza entre 1 e 12 de dezembro mais uma monótona Conferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas da ONU (CoP). É a 14a Conferência desse tipo e já se sabe que não vai dar em nada mesmo, porque o governo dos Estados Unidos, responsável pela emissão de 25% dos gases do efeito estufa, adiantou no primeiro dia do evento que não adotará metas de redução de emissões. Na prática, omitiram-se mais uma vez e passaram a bola para o governo Obama, que ainda vai assumir o cargo.
Esse foi o evento planejado – como sempre, no que diz respeito a políticas sobre o clima, de forma não estratégica, periférica em relação a vários outros assuntos considerados mais importantes e exatamente por isso sem grande relevância e provável falta de efetividade. Teve mais o objetivo de cumprir formalidades para que o Itamaraty, que já teve papel proeminente na elaboração tanto da Convenção quanto do Protocolo de Quioto, tivesse argumentos mínimos para defender nosso País. Afinal, o Brasil já ascendeu ao perverso quarto lugar entre os maiores poluidores do planeta, com as emissões causadas pela queima de florestas e frequentemente é atacado (justamente, aliás) por fazer praticamente nada para deter essa tragédia.
Se o Plano fosse fruto de uma determinação do governo em finalmente enfrentar o problema das mudanças no clima, até a repercussão na imprensa teria sido maior. Não havia oportunidade mais forte para fazê-lo: apenas uma semana depois da tragédia das enchentes em Santa Catarina, fenômeno que pode ser atribuído as mudanças no clima no planeta. Mas, como teve nítida intenção retórica e formal, quase não despertou atenção.
O curioso é que nem mesmo diante de tragédias como esta que se abate sobre Santa Catarina nossos governantes despertam para o problema, que vai crescendo de intensidade. Se o Nordeste é apontado como a região que mais sofrerá em caso do agravamento na alteração climática, é no sul do Brasil que já são freqüentes os fenômenos climáticos extremos. Eles demonstram a urgência em transformar o enfrentamento dessas questões em prioridade nacional.
Afinal, é na parte de baixo do território nacional que vêm se manifestando furacões e chuvas intensas, em Santa Catarina, e secas cada vez mais graves, no estado vizinho do Rio Grande do Sul. Como aponta o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é justamente nas regiões mais próximas dos pólos que primeiramente extremos climáticos como esses serão verificados e eles podem sim ser atribuídos à alteração do clima no planeta.
Mas, ao que se verifica com planos oportunistas e reuniões e mais reuniões improdutivas, nosso governo não se empenha em políticas e ações de longo prazo que ultrapassem o período de um mandato. Nem se a realidade o esbofetear como está fazendo no sul do Brasil.
Carlos Tautz, o autor deste texto, é jornalista. Texto postado no Blog do Noblat http://oglobo.globo.com/pais/noblat/. Reproduzido unicamente para divulgação. Direitos autorais reservados.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
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