Quais são as principais condições para que os centros urbanos garantam qualidade de vida à população?
Principalmente infra-estrutura. Primeiro abastecimento de água e coleta de esgoto, fundamentais porque é uma questão de saúde; depois o transporte, porque, dado o tamanho da cidade, não dá para se locomover a pé, não tem a situação ideal de morar perto do trabalho, da escola; o zoneamento vai distanciando as coisas. Mas é preciso transporte público de qualidade. É visível que não há tecido urbano que suporte tamanhos de vias indefinidos, com menos investimentos no público, no coletivo, deixando demandas retidas. Todo mundo compra carro, como se isso fosse resolver, e fica preso no trânsito, na velocidade de uma carruagem, de um bonde. Incorporado a isso, espaços para descanso, praça para ir na hora do almoço, com diferentes escalas, para o passeio da criança com a babá perto da casa; para o fim de semana, na praia, num parque; para a reunião de grandes públicos em eventos festivos.
Qual o papel desses espaços livres públicos numa cidade, visto que muitos terrenos destinados a praças foram ocupados em Fortaleza?
É exatamente a importância da parada no dia-a-dia. Uma música não é composta só de som. Tem o som e o não som, o silêncio. A gente tem a atividade do dia-a-dia, mas também tem que ter a parada. Nós temos a legislação com o percentual de áreas verdes dos loteamentos, mas não tem controle. Não tem um sistema de informação eficiente que envolva o cidadão. É impossível para o poder público ter o controle disso no dia-a-dia e acontecem esses desvios que não se tem como dimensionar.
Já foi feito diagnóstico da situação destes espaços?
Há um inventário ambiental feito pelo professor José Sales, um trabalho exaustivo, que muitas vezes é relegado. Esses documentos técnicos precisam compor um banco de dados. Por isso se fala da falta que faz um instituto de planejamento, que deveria ser o local de concentração dessas informações. Estamos na sociedade da informação, mas não importa informação se não se faz bom uso dela.Como a arborização pública interage com a cidade?Esse índice, de 12 metros quadrados por habitante, tão preconizado, que consta, inclusive, em algumas publicações, não tem confirmação da ONU. Quando se utiliza um índice desse é preciso saber primeiro o que é que se está chamando de área verde, que, em levantamentos que já vi, inclui cemitérios, monumentos, o verde de acompanhamento viário, rotatória no mesmo nível de praça, parque; situações distintas, com pesos distintos no cotidiano da população. Outra coisa: quais são os critérios de acessibilidade? Porque uma coisa é ter montanha, floresta junto da cidade, mas que as pessoas não têm acesso facilmente. Mas, se aquele verde estiver numa praça, tem uma outra perspectiva. Temos vários estudos, com índices que variam, em função da escala, de 15 a 55 metros quadrados. Existem parâmetros que precisam ser analisados a partir do contexto. Cada cidade tem a sua personalidade, configuração geográfica, social, física, cultural. Qual é tradicionalmente a nossa cultura? Meu avô cultivava fruteiras e sabia o nome delas. Embora conhecesse as plantas da Caatinga, como, a aroeira, o sabiá, essas não eram a plantas valorizadas, pois a preocupação era restrita ao provento, à alimentação. Hoje não se conhece as plantas usadas no dia-a-dia. Precisamos que as pessoas conheçam as coisas para que não se percam.
Qual seria o tratamento ideal para os mananciais urbanos a exemplo dos rios Cocó e Maranguapinho?
O que, a longo prazo, será mais importante? A cidade é uma construção humana e, para construir a cidade, se ocupa o território. Mas de que forma? O que existe é fundamental para a nossa sobrevivência a longo prazo? Não é possível canalizar os rios como se fazia. Taí a cidade de São Paulo, sofrendo com o Tietê quase todos os dias. O projeto do Governo do Estado para o Rio Maranguapinho é amplo; interessante porque vai fazer remoção de população para áreas próximas, com qualidade; não canaliza o rio, que permanece com seus meandros naturais; usa as vias paisagísticas como limite da faixa de preservação; prevê ligação do anel viário com a Mister Hull; prevê ligações das populações de uma margem para outra. Lógico que pode até necessitar de revisão por parte da população.
Do seu ponto de vista, quais são os principais problemas urbanísticos de Fortaleza?
O que mais incomoda é a questão do trânsito. Quando tenho que pegar o carro, me dá um desânimo. Com um transporte de qualidade, quem não vai preferir? Quando eu falo isso para os meus alunos, eles se espantam porque o padrão que a gente tem é deficiente. Precisa ter metrô, ônibus, manutenção dos espaços públicos, nos percursos. As praças melhores são as mantidas pela iniciativa privada ou pela população. O resto tem nome de praça porque está lá o quadrilátero, mas não tem nenhum tratamento e são praças importantes, como a Clóvis Beviláqua, com aquela grande laje. Naquele caso, a Cagece poderia ter uma política de contrapartida para ocupação.
domingo, 26 de abril de 2009
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