terça-feira, 24 de março de 2009

E o Planejamento e a Gestão?

A polêmica sobre o Acquário Ceará, proposto pelo Governo do Estado para o Poço da Draga, sobre as ruínas urbanas ali existentes, evidenciou novamente a necessidade de se compor de uma visão de futuro para a cidade de Fortaleza, de forma a superar os entraves que sempre surgem a cada nova idéia proposta.

Está claro que não temos mesmo um sistema de planejamento e gestão que nos esclareça sobre o que é ou não adequado ao desenvolvimento da cidade. Por outro lado, se registra que o nosso quadro de prioridades é errático, mas que poderia até incluir, em destaque, a proposta do Acquário, a exemplo do que várias cidades em todo o mundo fizeram, com sucesso, já que almejamos nos inserir no grupo de destinos turísticos relevantes. Um mantra sempre repetido em qualquer discurso.

No centro da polêmica, está o Poço da Draga, remanescente do antigo Porto de Fortaleza, há décadas em decadência, desde a transferência do mesmo ao Mucuripe, mas mesmo assim, uma da melhores posições de nossa orla marítima central, sempre lembrado a cada novo roteiro proposto à cidade.

Está no Plano Hélio Modesto/ 1963, como local adequado ä sede do novo centro cívico de Fortaleza, uma cidade que nunca teve uma boa relação com sua frente atlântica. Foi incluído no Plandirf/1969, por Jorge Wilheim, um dos maiores urbanistas brasileiros, como uma posição relevante. Figura no Plano Diretor Físico/ 1979 e no PDDU/ 1992. Foi também o objeto principal do Fórum Adolfo Herbster/ Edição 1995, com a participação de grandes nomes do urbanismo nacional: Luiz Paulo Conde, Cássio Taniguchi e Luiz Eduardo Lefevre, este uma das maiores autoridades brasileiras em Operações Urbanas, este moderno instrumento de redesenho urbano proposto pelo Estatuto das Cidades, ainda inédito entre nós.

Manteve-se na pauta, entre 2000/ 2005, tanto no Concurso Nacional de Idéias para Remodelação da Área Central de Fortaleza, como na proposta do Centro Multifuncional de Eventos e Feiras, do Governo do Estado e, ainda na sugestão original, feita pelo Oceanário de Lisboa, de replicação daquele equipamento em nossa cidade.

E reaparece no debate atual que pode até parecer outro, mas tem o mesmo conteúdo, já que a questão fundamental permanece: como dotar Fortaleza de equipamentos que consolidem nossa posição como referência internacional. O que nos leva a uma questão recorrente: como transformar o Poço da Draga de forma a sediar o Acquário do Ceará.

Tudo se dará através de um passe mágica? Teremos finalmente a elaboração de um plano urbanístico adequado, conforme reza o figurino, com embasamento técnico e viabilidade econômica? As questões de ampliação da faixa de praia, acessibilidade, preservação de espaços públicos e novos modelos de uso e ocupação do solo, serão contempladas? Os roteiros de integração com o Centro Dragão do Mar estão sendo pensados, ou mais tarde improvisaremos? O nosso Plano Diretor abre espaço a uma ação deste porte e significado ou o mesmo continuará alheio às demandas de modernização da cidade?

Estas são as questões que poderiam subsidiar o debate que se inicia.

José Sales Costa Filho
Arquiteto/ Urbanista/ Professor UFC
zesalescosta@ig.com.br

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