O processo é simples: cada um dos lotes pode usar, para o projeto Café com Floresta, até um dos cerca de trinta hectares disponíveis. Neste espaço, são plantadas quatro mil mudas de café e 800 de espécies nativas da Mata Atlântica. Além disso, árvores frutíferas são colocadas ao lado de exóticas, que crescem mais rápido e ajudam a sombrear a cultura em um curto espaço de tempo. “O ideal para o café, sem dúvida, é a meia sombra”, diz Lima. Os benefícios para o meio ambiente e os agricultores não param por aí.
Ao plantar mudas nativas próximas aos fragmentos originais ainda de pé, um dos pré-requisitos básicos do projeto no momento de escolher os lotes de assentamentos, o Café com Floresta auxilia no fluxo de animais e plantas por formar corredores ecológicos onde antes existia monocultura de cana-de-açúcar. Além disso, potencializa o recebimento de água dos lençóis freáticos em função da absorção da chuva pelas raízes e fornece matéria orgânica para oxigenar o solo.
O resultado da equação é um café muito saboroso e com baixíssimo custo, uma vez que os insumos necessários ao plantio são obtidos dentro dos próprios lotes. Basta ver o adubo, por exemplo, orgânico e criado a partir de esterco de gado e pó de rocha. “Antigamente, eu plantava café com adubo químico, passava veneno agrotóxico para matar praga, e no final não tínhamos lucro algum. Já havia até deixado a cultura de lado. Mas agora não temos despesa, só lucro”, avisa José Santiago, um dos produtores que adotaram a idéia. “As minhas árvores já estão enormes, parece uma reserva natural. E fica só a mil e duzentos metros do morro do diabo”, finaliza.
O maior benefício ambiental, no entanto, talvez seja o seqüestro de carbono. De acordo com Jefferson, o Ipê está agora trabalhando em um levantamento para mensurar o volume do gás retirado da atmosfera. “Mas temos certeza que é bastante”, diz. A mesma impressão tem o engenheiro agrônomo Eduardo Assad, da Embrapa. Para ele, a mistura de café com vegetação original pode gerar resultados positivos no Pontal, já que se trata de uma região muito quente e capaz de interromper a produção. “A flor aborta e acaba com a colheita se a incidência de sol e calor for alta”, afirma. Assad explica que o sistema de agroflorestas é uma das alternativas para o futuro e deve ser levado em consideração nas políticas públicas. E não apenas o café. “Essa cultura pode ter saído na frente, mas é possível haver uma integração entre grão, pasto e árvore. E pode auxiliar não só o Pontal, mas também em outras regiões que estejam perdendo produtividade em virtude do calor”, assegura.
Enquanto isso, o Café com Florestas segue firme na divisa entre São Paulo e Paraná, com patrocínios da Natura e do PDA Mata Atlântica (Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente). Hoje com 90 hectares espalhados pelo mesmo número de lotes, o programa do Ipê também gera recursos extras para o produtor, que pode manejar as madeiras nativas conforme elas crescem, para manter a meia sombra necessária ao café e sempre com suporte técnico dos especialistas da entidade. O bolso e a natureza agradecem.
Da mesma reportagem citada, na postagem anterior.
sábado, 6 de junho de 2009
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