domingo, 28 de junho de 2009

Editorial: Cobertura vegetal

Os executores do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza - TRANSFOR - irão retirar as árvores do canteiro central da Avenida Bezerra de Menezes e ocupá-lo com uma ciclovia. Numa cidade com a sua cobertura vegetal reduzida a 7%, a solução atenta contra as iniciativas para aliviar a poluição do ar na cidade e tornar seu clima ameno como outrora.

O TRANSFOR é um empreendimento bancado por recursos externos, cujos organismos financiadores atentam sempre para a conservação ambiental. Concebido há uma década, o programa tem sofrido ajustes no seu encaminhamento voltado para os corredores urbanos de transportes públicos. As ciclovias são cada vez mais necessárias, pois os trabalhadores estão trocando ônibus e trens por bicicletas e motocicletas, concorrendo com o tráfego pesado. As vias exclusivas para esses transportes frágeis concorrerão para reduzir os elevados índices de acidentes com baixas consideráveis. Mas tudo isso poderia ser feito sem afetar o pouco verde da cidade.

Esta será a segunda destruição das árvores da Avenida Bezerra de Menezes, corredor de acesso e escoamento da zona oeste de Fortaleza. A primeira ocorreu na década de 70, quando da implantação dos ônibus elétricos. As árvores foram sacrificadas para possibilitar a extensão da rede aérea de eletrificação dos ônibus.

Aliás, as transformações urbanas têm concorrido para modificar, por completo, os bairros situados ao longo desse corredor de tráfego, especialmente, o Monte Castelo, Parque Araxá, São Gerardo, Amadeu Furtado, Vila Éllery e Alagadiço. Região constituída até os anos 50 por suas chácaras, onde se cultivavam pomares e amplos jardins, a área mudou o seu perfil residencial com a expansão das atividades comerciais.

A cada ano, especialmente por ocasião do Dia da Árvore, há mobilização por alguns gestores municipais para o replantio de árvores, com a distribuição de mudas e o envolvimento dos jovens nesse esforço. Entretanto, os resultados não aparecem, pois cada árvore requer cuidados especiais por, pelo menos, dois anos. Sem o acompanhamento, elas têm vida curta pela falta de água e de insumos essenciais. Em dezembro passado, Fortaleza tentou ser recordista com uma megaplantação de 65 mil fruteiras em 23 minutos, envolvendo 4,5 mil voluntários, no campus da Uece e na Fazenda Uirapuru. Adultas, elas terão o papel de neutralizar três toneladas de carbono, por ano, transformando os 40 hectares onde foram distribuídas num grande pulmão verde. A solução indicada para o Transfor vai na contramão desse esforço.

Aliás, a batalha pelo verde tem implicado até em caminhos bizarros: o Deputado Carlos Humberto Manato (PDT-ES) apresentou projeto de lei obrigando o plantio de árvores por quem se casar, se divorciar, comprar carro novo ou imóvel residencial ou comercial. As construtoras deverão plantar, por ano, 65 milhões de árvores. Como a distribuição de mudas, esse projeto não passa de uma utopia, mas nem por isso se pode descurar das medidas práticas de preservação vegetal.

Editorial publicado pelo jornal Diário do Nordeste, data de hoje, 28 de Junho de 2009.

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