A demolição da passarela de Ipanema, num ensolarado domingo de inverno, foi uma dessas festas tipicamente cariocas que tanto podem não ser nada como, por descuido, virar revolução. O finado trambolho cruzava pelo alto a rua Visconde de Pirajá, na altura do Bar Vinte, o ponto onde em outros tempos o bonde fazia a volta no bairro. Era um viaduto para pedestres com veleidades decorativas. Mas há muito tempo não ligava uma calçada à outra. Logo depois de sua inauguração, 13 anos atrás, os vizinhos passaram a se queixar dos pedestres que, aproveitando a volta por cima, davam uma espiada na vida alheia, pelas janelas dos apartamentos.
Interdidato por ser indiscreto, ele começou a enfrentar críticas por inútil. E inútil ele era. Mas a prefeitura derrubou-o porque, além de inútil, era feio. Foi portanto uma vitória inédita da opinião pública contra a feiúra urbana. E a presidente local da associação dos moradores chegou a dizer que “o Rio amanheceu cantando” – como se já estivesse no ar a Marselhesa do Bota-Abaixo, conclamando “às britadeiras, cidadãos”.
Marcos Sá Correa em O ECO http://www.oeco.com.br
sábado, 5 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário