terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vamos fazer o Defenda Fortaleza

Nas Páginas Azuis do O POVO de ontem, uma ótima entrevista com a arquiteta Regina Monteiro, a servidora pública responsável pelo “Cidade Limpa”, o projeto que, em pouco tempo e sem custos financeiros, retirou a poluição visual que infestava a maior capital brasileira. A arquiteta chamou a atenção para um ponto em especial: não há entidades e nem movimentos organizados para defender a cidade dos terríveis abusos urbanos e dos crimes cometidos contra a organização física de Fortaleza. “Aqui eu fiquei impressionada como não vi ninguém da sociedade. Eu venho para cá, fazer o Defenda Fortaleza!... Deve ter algumas entidades, algumas ONGs, pelo que entendi tem alguns ambientalistas... Mas que trate das coisas da cidade, do urbanismo, eu não vi em Fortaleza”, disse Regina. Na mosca. Não há. Ninguém se organizou para defender Fortaleza das agressões urbanas. Não existe nenhum movimento organizado para preservar e fazer valer o respeito às regras que definem a cidade.

Falta Mobilização Cidadã

Em Fortaleza, há uma ou outra semente de mobilização a favor da cidade, mas os alvos são pontuais e limitados aos interesses localizados dos envolvidos. É o caso dos cidadãos de classe média que se reuniram para fundar a Associamigos, uma entidade cujo objetivo é cuidar da praça Martins Dourado. O sucesso do trabalho da associação parece ainda estar longe de se estender para o resto de Fortaleza. Sabe-se da articulação do comando Regional 2 para replicar a experiência da Associamigos, mas é pouco. Falta sociedade, falta mobilização cidadã. O curioso é que há todo tipo de mobilização. Há ONGs para defender gatos pulguentos e remelentos que defecam nas praças e transmitem doenças. Há ONGs para defender invasores dos espaços públicos, mesmo que seja uma área de proteção ambiental. Há empresários que se mobilizam para manter seus negócios de poluição visual. Há entidades de transportes piratas. Existem os juízes que dão liminar para a construção irregular ser erguida na marra e ao arrepio das leis. Há magistrados que substituem as funções da Prefeitura e concedem alvarás para negócios construídos irregularmente. Porém ainda não há um só movimento organizado para defender a cidade de tantas agressões.

Cidades: uma pauta moderna

Já se passaram mais de vinte anos do fim da ditadura. A democracia brasileira parece consolidada, mas restam questões que precisam ser resolvidas. Uma delas é a construção de um sistema partidário sólido e moderno que seja capaz de qualificar a representação política do País. Então, essa reforma precisa permanecer na pauta do dia. Numa política dominada por balcões, por buscas de governabilidades, as trajetórias pessoais têm prevalecido. Tal característica dificulta a assimilação pela política de temas relevantes como o que diz respeito ao cotidiano das cidades. Tanto que hoje é raro vermos um político e, principalmente, um candidato a cargo executivo assumir posições claras relacionadas à ordem urbana. Talvez por medo de perder apoios eleitorais. Coitados. O medo é infundado. Todos os gestores que assumiram posições firmes nessa área alcançaram forte apoio popular e se tornaram referências administrativas. Mais madura, a sociedade tende a valorizar os políticos que, nas campanhas ou no cotidiano do parlamento e das gestões, reproduzirem mensagens e ações em defesa da organização urbana das cidades.

Pobrismo e Oportunismo

Mas, essa caminhada está repleta de obstáculos. O maior deles é a visão atrasada. É a visão contaminada pelo pobrismo e pelo oportunismo. Ou seja, em nome de uma dívida social, as cidades, as regras urbanas e o espaço público devem ser colocados em segundo plano. Então, muitos avaliam que se deve tolerar todo tipo de abuso. A invasão da área onde está instalada a UFC, por exemplo. Tolera-se também que as calçadas e praças sejam tomadas por vendedores ilegais. Os poucos que condenam e apontam esses absurdos costumam ser tachados de “direita”. Grande bobagem e uma imensa ignorância filosófica. Como se o laissez-faire urbano fosse um comportamento de “esquerda”. Por esse raciocínio, deixar que os vendedores ambulantes ocupem uma praça, um patrimônio da cidade, uma área de passeio, é coisa de esquerda. Sendo assim, que assumam publicamente esse ponto de vista.

Alguém se habilita?

Coluna de POLITICA do Jornalista Fábio Campos, no Jornal O POVO

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