segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Espaço público: o debate precisa ser ampliado

No O POVO deste domingo, especialistas cobram mais presença e rigor da Prefeitura de Fortaleza no ordenamento do espaço urbano da Cidade. Na média, os arquitetos ouvidos dizem que o poder público deixa correr frouxo ocupações irregulares de praças e calçadas, hoje praticamente dominadas pelo comércio ambulante. A cobrança, a partir da constatação da omissão da gestão municipal – atual e passadas -, é mais um desdobramento do debate que varou a semana, iniciado com a tentativa de desocupação da feira que funciona em frente à Catedral, no Centro.

O lado bom nisso tudo é que a discussão foi ampliada. Deixou-se de lado a estreita perspectiva de que a saída dos camelôs das praças da Sé, José de Alencar e Lagoinha, por exemplo, é um mero caso de Polícia. Mas é preciso que a questão seja alargada mais ainda. Não pode ficar restrita à dicotomia praça-feirante. Na última quinta e sexta-feira, a repórter Mariana Toniatti mostrou a situação de total desrespeito em áreas nobres de Fortaleza.

Nas avenidas Dom Luís e Santos Dumont, dois ícones da pujança comercial na Capital, pedestre não tem vez. A velha e boa calçada em frente a lojas sofisticadas cedeu espaço para arremedos de estacionamento. Nesses dois corredores, para andar, o cidadão tem de fazer malabarismo entre os carrões. As perguntas que ficam são as seguintes: a noção de espaço público e o direito do ir e vir na Fortaleza de granito e vitrine são menores do que na Fortaleza dos sacoleiros? É o fator sócio-econômico dos “réus” que determina quem deve ser enquadrado na lei? Por último, uma provocação: quando o Ministério Público vai à Justiça questionar os sem número de estacionamentos recuados irregulares em Fortaleza? Quando sairá a primeira liminar?

A legislação deve ser aplicada em ambos os casos. Não dá para continuar fingindo que calçadas podem ser extensões de empresas, ao mesmo tempo em que se cobra a remoção imediata de camelôs que impedem a livre circulação em praças do Centro.

PERMISSIVIDADE E HIPOCRISIA

Separar o que é de uso coletivo de interesses privados é muito difícil, em um país onde a cultura cidadã é rasteira. Às vezes, beira a distorção e permissividade propositais. Na última sexta-feira, este colunista escreveu algo nessa linha para o Blog de Política (blog.opovo.com.br/política). O conteúdo do post, na íntegra, é o seguinte: “A classe média fortalezense que cobra força bruta do poder público para ‘esterilizar’ as praças da Sé, José de Alencar e tantas outras em nossa cidade, é a mesma que visita apartamentos decorados e faz test drive em veículos de luxo, cujas empresas instalaram-se de forma irregular em áreas nobres da cidade. Algumas, em áreas de preservação ambiental. É a mesma casta que adora mostrar para parentes e amigos que vêm de fora as belezas artesanais das barracas na Beira Mar. Às vezes, até arrisca uma comprinha também. Está na cultura do brasileiro: vista grossa para possíveis benefícios que lhe dizem respeito. Caso contrário, que se lixe. Polícia neles! Vamos chamar isso pela palavra certa: hipocrisia”.

A mensagem causou polêmica e foi duramente atacada por alguns. Duas observações. Primeira: a coluna reafirma o post. Segunda: é uma pena que a massa de vendedores ambulantes não tenha acesso a computador e Internet para colocar seus pontos de vista.

Comentários do Jornalista Erivaldo Carvalho, na Coluna POLITICA, do Jornal O POVO, de hoje 19 de Janeiro de 2009. Reprodução unicamente para ampliar o debate sobre a manutenção e preservação do espaços públicos em nossa cidade de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.

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