Para José Almir Farias, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), a ausência de espaços públicos e mais áreas verdes pode trazer menos possibilidades de convívio social. Presa a um mundo sem relacionamentos, essa população passa a ficar nervosa e irritada e tende a cair num estresse urbano. “Se não convivo com outras pessoas, não sei até que ponto posso ir com os meus desejos, as minhas frustrações, as minhas angústias. Vejo aí um mundo só meu, onde posso ter tudo. Não é por acaso que esse cenário é mais que propício ao desenvolvimento de comportamentos egoístas, por exemplo”.
O alívio desse estresse que praças e parques podem proporcionar alcança o nível mais amplo dos sentidos, de acordo com o arquiteto, urbanista, doutor em Planejamento Ambiental e colega de Departamento do professor Almir, Marcondes Araújo. “Se você sente abafamento, vai para a praça que o alívio é imediato. Se está cansado visualmente do mesmo espaço, corre para o parque que, com certeza, novas são as cores e as texturas. É um processo de descontaminação”, explica Araújo.
A praça e o parque trazem também mais segurança, na visão de Farias. Porque a população deixa de fazer uso de calçadas muitas vezes próximas demais às vias ou mesmo do canteiro central extremamente estreito para sentar-se num ambiente mais adequado, com possibilidade de sempre ceder espaço para um que chega ou para a criançada brincar de bola ou bicicleta. Esses espaços não deixam também de ter um uso estratégico. “A Praça da Estação João Felipe é um ponto de conexão intermodal de transporte, porque temos trem, ônibus e, no futuro, metrô. Mas ela não pode ser apenas uma praça terminal. Para funcionar bem como espaço público, ela deveria ter melhores condições, como faixas de sobreamento e mobiliário”.
O Professor Marcondes Araújo vai além. Segundo ele, a escassez de espaços públicos com áreas verdes pode levar o cidadão a condições subumanas. “Reféns de sua casa, tendo em vista que o ar tende a ficar poluído demais, a paisagem muito degradada, as poluições visual e sonora em níveis insuportáveis, mais violência de meninos que cresceram na rua porque não tiveram espaços dignos para brincar etc”.
Por uma nova paisagem urbana é o que ecomenda a especialista em Paisagismo e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fernanda Rocha, quando fala em beleza. “A feição de uma cidade pode ser alterada a partir da interferência em seus espaços livres, ao mesmo tempo em que eles são o testemunho material das relações de seus cidadãos entre si e com esses espaços. Quem não é capaz de perceber o belo colorido produzido pela floração de algumas plantas como os ipês na Avenida Domingos Olímpio. Com mais desses espaços com verde, a paisagem urbana poderia ser bastante animada por diferentes matizes e transmitir diversas sensações”, acrescenta Fernanda Rocha.
Matéria do jornal Diário do Nordeste, de hoje 26 de janeiro de 2009. Reproduzida unicamente para divulgação. Direitos autorais preservados.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
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