terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Centro vive, viva o Centro

O processo de metropolização da cidade de Fortaleza no geral não tem sido muito diferente de outras cidades do país e até do mundo. A migração de bens e serviços de natureza econômica, social e cultural para áreas “novas” criadas a partir de uma intervenção do poder econômico para atender aos reclamos da elite - às vezes associada ao poder público municipal ou com a complacência deste -, revelam uma tendência urbanística de graves conseqüências para a qualidade de vida urbana, na medida em que o abandono e a falta de planejamento para as áreas denominadas “centros antigos” levam-nas a uma sistemática deterioração.

A consciência desse processo e o desejo de sustá-lo, tem estado no centro do debate, quando se trata da área referida ao Centro de Fortaleza, por vezes colocado de forma equivocada, alegando-se a necessidade de “revitalização” da área como se as mudanças ocorridas significassem a perda da vida urbana no referido espaço. O que é necessário entender é que a cidade enquanto uma construção social dos indivíduos que nela habitam, sofrem processos de mudança que não estão imunes às tensões e conflitos de interesse que pautam as relações entre indivíduos e classes sociais no mundo moderno. O que se observa em Fortaleza é que o Centro antigo preservou-se como referência espacial e simbólica, na medida em que não perdeu o caráter de centralidade urbana que sempre lhe foi atribuído como berço histórico e por ainda permanecer como área de intensa vida econômica. Qualquer caminhada pelo Centro de Fortaleza deixa transparecer, até a um observador desatento, a pujança da vida urbana ali acontecendo, expressa nos índices hoje utilizados para aferir esta condição, tais como o fluxo de pessoas, de veículos e das atividades econômicas e financeiras que se realizam nesse espaço.

Se a vocação de centralidade permanece e é perfeitamente constatável, por outro lado, constata-se também uma perda de qualidade nas condições do espaço, no que se refere ao conforto para o transeunte, obrigado a enfrentar a poluição visual e sonora, calçadas mal cuidadas e cheias de obstáculos, praças e ruas privatizadas, sem paisagismo e mobiliário adequados à fruição, à sociabilidade, ao descanso das pessoas que para ali se dirigem.

É necessário e urgente intervir no Centro antigo de Fortaleza a partir das concepções urbanas atuais onde a ênfase na qualidade de vida sobreponha-se às coisas, agregando, inclusive, as virtudes que as tecnologias modernas possam oferecer. Criar uma ambiência urbana com espaços amplos e belos que convide ao caminhar, à fruição, ao encantamento do fortalezense e do visitante.

Se o poder público tem uma enorme responsabilidade de proporcionar as condições para que isso aconteça, este é também um desafio para os cidadãos fortalezenses que, com sua energia e participação, o constroem cotidianamente.

Ivone Cordeiro Professora de História/UFC. Secultfor/Patrimônio - responsável pela reforma do Passeio Público

Um comentário:

João Alves disse...

Pois é... E infelizmente para nós, cidadãos ainda está pouco notável o trabalho de recuperação desses fragmentos do centro histórico da cidade. Mas fica muito melhor esse processo quando participam a população, o poder público e outros órgãos competentes. O texto está ótimo, mas o centro histórico não vai nada bem...