A principal atração do Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBNB) é a biblioteca. Recebe mil das 1,5 mil pessoas que passam por lá de terça a domingo. Ouvimos a informação em um encontro Viva o Centro! no TJA. O dado ressoa, não só pelo número, mas por desmontar um modo de pensar a área. O Centro abriga vários dos modos de vida da cidade. Carece de cuidados. Muitos. Mas está cheio de vida.
É a área que mais duramente explicita as precariedades de Fortaleza, como a ocupação do espaço público, por exemplo, com atividades privadas em praças, ruas de pedestres e calçadas. A maioria dos espaços culturais da cidade está entre as avenidas Dom Manuel, do Imperador e Duque de Caxias. Se esticarmos um pouco os limites do que era Fortaleza em 1910, ano de inauguração do TJA, e hoje é o Centro, crescemos a relação: Vila das Artes, Sesc próximo ao Mercado São Sebastião, Casa de Artes e Ofícios Tomás Pompeu. Como os Sobrado Dr. Zé Lourenço, Museu do Ceará, Espaço Cultural dos Correios e os já citados, todos fazem atividades gratuitas.
A cada encontro Viva Centro!, o TJA convida a olhar o Centro de um modo outro. Juntos, trabalhadores da cultura – somos mais de 30 endereços no Centro -, exercitamos pensar o que essas instituições podem na vida do Centro, da Cidade, do Ceará. Saber que mais de mil pessoas por dia vão ao Centro para usufruir de uma biblioteca, pode fazer prosperar um modo outro de experimentar a cidade.
As práticas sociais que surgem ou ganham força em torno/a partir dos equipamentos culturais podem ser fontes de vitalidade para um cotidiano cheio de pequenos massacres de nós mesmos: acostumar a viver em meio ao lixo de áreas públicas ocupadíssimas com feiras, por exemplo, é uma profissão de fé ao contrário; achar normal o acinte dos sons amplificados – seja no corcel ou na hilux, nos mais de 15 bares da Praça José de Alencar ou no entorno do Dragão do Mar; talvez sejam modos de conspirar contra nós mesmos, nosso presente sem qualquer futuro. Vamos conspirar a favor da vida.
Fazer disso um exercício diário e coletivo. É tão vital quanto a grande celebração praieira do réveillon realizada pela Prefeitura de Fortaleza, que nos leva a pensar e viver para além do estado de medo cultivado no dia-a-dia. Cito uma amiga encantada porque saiu de casa depois das dez da noite e, morando no começo da Santos Dumont, foi a pé até a praia no dia 31, com a sensação de segurança que nos faz, entre outras coisas, cumprimentar as pessoas na rua. Tão simples, tão possível estar menos cru e menos rude no convívio diário.
Taí uma tarefa das casas culturais no Centro: fazer vibrar outras potências de vida na área; viver de um modo outro na região que mais diz sobre como vivemos uns com os outros.! Vamos exercitar, juntos, viver o Centro pelo viés da pujança.
IZABEL GURGEL - Diretora do Theatro José de Alencar
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
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