"O corpo dos pedestres obedece aos cheios e vazios de um “texto” urbano que escrevem sem poder lê-lo. Esses praticantes jogam com espaços que não se vêem; têm dele um conhecimento tão cego como no corpo-a-corpo amoroso. Os caminhos que se respondem nesse entrelaçamento, poesias ignoradas de que cada corpo é um elemento assinado por muitos outros, escapam à legibilidade. Tudo se passa como se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras das cidades habitadas”.
A reflexão de Michel de Certeau nos remete ao caos que embaça o nosso olhar, que nos distancia da condição de sujeito, do outro e de nós mesmos, da nossa cidade, do centro da nossa cidade, que oferece à primeira vista um cenário desolador. Praças e calçadas intransitáveis, poluição sonora e visual, lixos acumulados, bocas-de-lobo escancaradas – legítimas armadilhas para caminhantes - tudo isso dramatizado pelo calor causticante. Retratos de uma desordem urbana. Cravados nesse universo, vivemos a beleza e o vigor de traços da nossa história, da nossa cultura, permeados nas manifestações artísticas de rua, no patrimônio edificado e nas programações dos espaços culturais ali localizados: Theatro José de Alencar, Centro Cultural Banco do Nordeste, Sesc São Luiz, Academia Cearense de Letras, Museu de Artes e Culturas Populares, Museus dos Minerais, Vila das Artes, Espaço Cultural dos Correios, Centro de Referência do Professor, Museu do Ceará, Sobrado Dr. José Lourenço, sendo este último o exemplo mais recente de restauração de bens culturais do centro de Fortaleza.
Ao atuar no campo das artes visuais, o Sobrado atribui um novo uso ao antigo casarão que serviu de moradia e consultório do médico sanitarista Dr. José Lourenço e que, posteriormente, sediou repartições públicas, oficina de marcenaria e bordéis, contribuindo para a preservação de um belo exemplar da arquitetura do século XIX e das memórias a ele atreladas. Devemos lembrar também do Passeio Público, Mercado Velho (antigo Mercado Central), Estação João Felipe, Forte de Nossa Senhora da Assunção e das igrejas centenárias: Igreja do Rosário, Capela do Pequeno Grande, Sagrado Coração de Jesus, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja do Patrocínio.
Para completar o roteiro, a imponência dos marcos góticos e românicos da Catedral da Sé. Um circuito que integra equipamentos culturais e territórios de convivência coletiva deve ser potencializado, através de ações já tão debatidas e que urgem ser concretizadas, através da atuação efetiva do poder público, da iniciativa privada e da comunidade. Ações estas que contribuirão para valorização da nossa cultura e para o alargamento da noção de apropriação, pertencimento cultural e conseqüente respeito à nossa cidade.
GERMANA VITORIANO - Diretora do Sobrado Dr. José Lourenço
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
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