sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cooperativa Titanzinho Digital – inclusão social como alternativa aos jovens do Serviluz

Ao lado da Central Eólica Mucuripe, perto do farol desativado, está localizada uma das mais belas e ignoradas paisagens de Fortaleza: a praia do Titanzinho, no bairro Serviluz, área de risco que figura freqüentemente no noticiário policial. O local já é conhecido dos cearenses pelos bons resultados obtidos por surfistas nativos, alguns deles campeões mundiais. Muitos desses atletas saem da Escola Beneficente de Surfe, idealizada por João Carlos Sobrinho (mais conhecido como Fera) e apoiada pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).

O que boa parte da população desconhece é que o Titanzinho também é um lugar de jovens guerreiros que buscam encontrar alternativas para uma vida melhor. Um exemplo de iniciativa bem sucedida nesse sentido é a cooperativa Titanzinho Digital, um projeto de inclusão social que tem a Funcap como principal apoiador. O projeto é semelhante ao do Pirambu Digital, uma experiência bem sucedida em outra área de risco de Fortaleza. A cooperativa oferece aos moradores do Serviluz cursos de línguas, de informática básica e avançada, cursinho pré-vestibular, cursos de arte e cultura e aulas de história e tradição. Desses, o mais avançado é o de informática. “Alguns alunos nossos já estão estagiando no Pirambu Digital na área de fabricação de softwares”, relata André Aguiar, morador da comunidade e um dos coordenadores do projeto.

Manter o projeto não é fácil, os problemas são muitos. No cursinho pré-vestibular, por exemplo, muitos alunos se recusam até a ler textos. “Eles têm vergonha. Muita gente sai do ensino médio sem saber ler”, diz André. Mesmo assim, cinco pessoas da comunidade já chegaram à universidade e o próprio André é mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

A cooperativa Titanzinho Digital atende, atualmente, mais de 100 jovens moradores do Serviluz. Além das salas de aula e de informática, a sede também dispõe de uma biblioteca comunitária com mais de dois mil livros. A Funcap apóia o projeto através de bolsas para os coordenadores (que doam 20% do que recebem para a manutenção da cooperativa) e para estudantes de graduação, professores dos cursos de línguas. Além disso, 20 participantes do Programa Agente Digital recebem mensalmente da fundação uma bolsa de cem reais para serem futuros replicadores da idéia.

Mesmo assim eles têm dificuldade para manter a estrutura física necessária para tocar o projeto porque, além dos recursos para manutenção dos alunos e dos equipamentos, também é preciso conservar o prédio onde ele funciona. Tarefa árdua, com os ventos fortes e a areia fina que passa pelas frestas nas telhas e faz com que seja preciso colocar lonas sobre os tetos das casas da comunidade. Isso além da maresia do local, que diminui bastante o tempo de vida de móveis e aparelhos. Mas os meninos guerreiros da cooperativa não desistem e freqüentemente promovem festas, bingos e rifas para arrecadação de recursos.

Apesar das adversidades, os jovens do Titanzinho Digital são ambiciosos: “Quase sempre somos retratados pela mídia como coitados, mas não queremos ser vistos dessa forma”, diz André. O objetivo, segundo ele, é que a cooperativa cresça e o projeto se torne um centro de tecnologia da informação, com webdesigners, técnicos de hardware e programadores.

Mais informações sobre a cooperativa podem ser encontradas nos endereços www.blogtitanzinhodigital.blogspot.com ou www.2clique.net/titanzinhodigital. Os dois sites, vale lembrar, foram desenvolvidos por Luís Filho, também morador da comunidade e um dos coordenadores do projeto. Da Agência Funcap por Giselle Soares.

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