domingo, 16 de agosto de 2009

Multiplas saídas

Apesar de parecer indissolúvel, a favelização tem jeito. A melhor saída, segundo Abiko, seria impedir a existência delas, por meio de programas habitacionais alternativos. A Prefeitura de São Paulo até tentou fazer isso, com a criação de conjuntos, os famosos Cingapura. O problema é que ela tirou a população de perto de suas comunidades, empregos e família. Descontentes, os realocados iniciaram um processo de degradação dos prédios públicos e retornaram aos seus locais de origem, erguendo novas favelas.

Se é impossível retirar a população dali, a melhor solução é urbanizar as comunidades, isto é, regularizar as moradias nas quais isso for judicialmente e ambientalmente possível, criar redes de esgoto e água, instalar sistemas de coleta de lixo e oferecer melhores condições de vida aos moradores. “Uma favela urbanizada jamais vai recuperar a mata que eventualmente existia ali. Sempre pensamos em formas de recuperação que garantam a sustentabilidade do local, mas o objetivo principal é dar mais condições de vida para a população”, diz o professor. “No fundo, no fundo, é uma estratégia paliativa”, conclui. Apenas 120 favelas de São Paulo, do total de 1.634, passam por processo de urbanização atualmente.

Mas urbanizar favelas não é simplesmente jogar concreto sobre a terra. Cada área tem sua especificidade ambiental que deve ser respeitada. A região da represa de Guarapiranga é exemplo desta situação. De acordo com o programa Mananciais, do Instituto Socioambiental (ISA), cerca de três milhões de pessoas vivem sobre áreas de mananciais na região metropolitana de São Paulo, muitas delas em favelas. Sem saneamento básico, a água que brota da terra é misturada ao esgoto das casas. Segundo Marcelo Cardoso, coordenador executivo da organização não-governamental Vitae Civilis, e antigo assessor do Programa Mananciais do Instituto Socioambiental (ISA), a intervenção do Eestado em situações como esta deveria ser enfática.

Mas, na prática, não é isso que se vê. “Existem parâmetros urbanísticos bastante restritivos, mas que nunca foram seguidos. Além disso, falta integração entre os órgãos responsáveis pelo quadro. As Secretarias de Planejamento, Habitação e Meio Ambiente não se conversam. O meio ambiente não é importante para a Habitação. O problema é extremamente complexo e não existe uma única solução. São várias soluções conectadas com o tipo de cidade e de expansão urbana que a gente quer”, diz.

A Secretaria de Habitação do Município de São Paulo foi procurada pela reportagem, mas negou-se a dar entrevista. A assessoria do órgão informou que o responsável pelo assunto estava com a “agenda lotada”.

Fonte O ECO em matéria de Cristiane Prizibisczki http://www.oeco.com.br/reportagens/37-reportagens/22286-o-perfil-da-nossa-urbanidade. Vale a pena conferir, acessando os mapas disponíveis.

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