A dragagem do Rio Maranguapinho é analisada com prudência pelo doutor em saneamento e hidráulica e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Rogério Campos. Em sua avaliação, a retirada de toneladas de material, da já muito alterada calha do rio, sem criterioso estudo de dinâmica fluvial, é uma medida temerária. “O Maranguapinho, diga-se, não é um rio assoreado”.
Ao contrário, ressalta, em muitos trechos onde há retirada de material do fundo para olarias e construção civil, ele encontra-se em estado pantanoso. “Um desses trechos passa ao lado da estação de tratamento de esgotos do Distrito Industrial de Maracanaú”.DegradaçãoO assoreamento em rios, ensina, é o processo em que materiais erosivos naturais são depositados na sua calha. A obstrução do leito por depósito de resíduos e lixo não consiste de assoreamento.
Em sua dinâmica natural, diz o professor e engenheiro civil, os rios assoreiam nas águas baixas e desassoreiam nas cheias, processo que será comprometido pela construção da barragem de contenção de cheias e pela retificação do perfil. “O assoreamento a partir da erosão por origem antrópica (devido à ação do ser humano) é um componente totalmente mitigável a partir de ações orientadas pelo conceito de sustentabilidade, tais como um programa de conservação do solo”, defende ele.
No seu entendimento, as demais medidas de saneamento e habitação são mais que cabíveis e obviamente qualquer governo teria que fazê-las mais cedo ou mais tarde. O que causa surpresa, avalia, é o fato das propostas de intervenção não terem sido discutidas convenientemente com a sociedade, desprezando mais uma vez o conceito moderno de “grassroots moviment” (movimento de raiz — movimento político dirigido pelas comunidades envolvidas em quaisquer ações que interfiram no seu dia a dia). “O projeto é aparentemente dominado pelo tecnicismo alienado da realidade das mais modernas metodologias de trabalho, revelando desatualização da equipe técnica”, critica.
Dessa forma, o projeto revela defeitos de ordem técnica e política que podem ainda ser consertados. “É inaceitável que os conceitos de restauro de rios, sustentabilidade e ‘grassroots moviment’ não tenham sido utilizados durante a elaboração”, assevera.
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Fundação de Apoio da Uece (Iepro) — responsável pelo projeto — também ignoraram, pelo menos, dois projetos desenvolvidos no Estado, pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), tendo repetidos algumas ações propostas por aquelas instituições, revelando desperdício de recursos. Para ele, o Projeto Maranguapinho é extremamente necessário.
No entanto, analisa, apresenta medidas que podem transformar a situação atual numa pior, a qual precisará de recursos muito mais altos no futuro para corrigi-la. “Exemplos assim são abundantes. Vide o caso do retificado Rio Tietê em São Paulo”, alerta.O professor lembra de projeto apresentado pela Funasa para o governo do Estado, muito semelhante ao atual.
Publicado pelo jornal Diário do Nordeste, em 03/08/2009.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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